Como dizia o filósofo pernambucano Bezerra da Silva, “malandro é malandro e mané é mané”. E o tema desta crônica de hoje tem a ver com ganhar dinheiro na lábia. Mas não é fácil ganhar dinheiro fácil.
No início da noite de domingo, 17 de março, um casal e um bebê foram mortos na cidade de Niterói (RJ). O cara, que era gesseiro e motorista de aplicativo, saiu da casa do sogro dizendo que iria pegar um dinheiro para dar entrada na compra de uma casa. O homem, a mulher e o bebê caíram em uma emboscada e foram alvejados com dezenas de tiros. Os adultos morreram na hora e o bebê ainda foi levado vivo para o hospital, com uma bala alojada na cabeça, mas não resistiu.
Na hora ninguém entendeu o crime. Teria sido engano? Balas perdidas? Uma fatalidade? Nãnãnãnã…
A história que a polícia descobriu foi que o motorista se passou por um policial militar corrupto e ofereceu ao chefe do tráfico do Morro do Castro, em Niterói, o nome de alguém do bando que estava delatando os colegas. Em troca da informação queria 50 mil reais.
Os bandidos descobriram que o cara queria ser mais malandro do que eles, tentando aplicar um golpe. No entanto, o falso policial sabia de muita coisa relacionada ao bando. Para não passar o recibo de otário, o chefe do bando decretou a sentença de morte, que foi executada com esmero.
No rescaldo desse rolo todo, ficou claro que há uma relação espúria entre alguns policiais e o tráfico, pois o chefe dos bandidos atendeu ao suposto policial que oferecia um delator do bando – ou seja, parece ser comum esse tipo de negociação.
Uma dúvida que persiste é quanto à vítima. Como o motorista tinha tanta familiaridade com a bandidagem, sem que ele tivesse qualquer passagem pela polícia? Como sabia os “segredos” do Morro do Castro e foi fácil chegar até o “boss”? As investigações ainda não responderam essas questões ou não divulgaram tudo que foi apurado.
Fica a lição trazida pelos portugueses, talvez na nau capitânia de Cabral: “A esperteza quando é muita, vira bicho… e engole o dono”.
[Crônica XLV/2024]