21 de dezembro de 2023

‘Perversiani’, um enigma de infância – Desenterrando raízes

Por José Carlos Sá

Quando criança ouvia as pessoas se referirem a um lugar – na verdade uma estação da ferrovia Baiminas – como “Perversiani”. Eu pensava, pensava e não conseguia decifrar o que significava o nome. Viria de “perverso”, talvez? E a dúvida persistia na minha cabecinha ainda oca. Depois, não pensei mais no assunto, pois o meu cabeção já estava ocupado com outras preocupações.

O prédio da estação ferroviária de Pedro Versiani foi uma das três edificações ligadas à Bahiminas que sobreviveu (Foto JCarlos)

Em outubro assisti a um vídeo do jornalista Athylla Borborema em que ele conta a história completa (são quase cinco horas de vídeo) da Estrada de Ferro Bahia e Minas. O documentário mostra a situação atual de tudo que existia no trajeto da extinta ferrovia entre Ponta de Areia, distrito de Caravelas (BA), a Araçuaí (MG). Entre as paradas do apresentador uma foi no distrito de Pedro Versiani.

Manhã de domingo sossegada em Pedro Versiani (Fotos JCarlos e Marcela Ximenes – gato branco)

Foi então que entendi o nome: Pedro Versiani, que em teófilotonês é pronunciado “Perversiani”. Se eu tivesse morrido antes de assitir à reportagem, iria para a sepultura sem decifrar o meu enigma de infância. Na visita feita em novembro a Teófilo Otoni, propus à Marcela visitarmos a localidade cujo nome, aliás, aparecia nas placas informativas da rodovia pela qual passávamos.

Fomos lá em uma manhã de domingo, mas o lugar ainda não tinha despertado.

Engenheiro Pedro Versiani foi homenageado com o nome de estação ferroviária em um lugar que se chamava Saudade (Foto reprodução Fernando da Matta Machado)

Quem foi o Perversiani?

O distrito de Pedro Versiani fica distante 28 quilômetros da sede, Teófilo Otoni, às margens da BR-418. A localidade chamava-se “Saudade”, sendo anterior à construção da Estrada de Ferro Bahia e Minas. O povoado teve início a partir de um pouso de tropeiros, que já existia em 1855. Depois veio a estrada de Santa Clara, implantada pela Companhia do Mucuri (que fundou Teófilo Otoni como um entreposto comercial entre o litoral baiano e o interior de Minas Gerais).

A estrada de ferro chegou ao local em 1897 e houve um crescimento populacional no entorno da estação ferroviária que recebeu, em 1898, o nome do engenheiro Pedro José Versiani (*1853/+1937), fiscal de ferrovias, estradas e obras públicas federais, e responsável pela construção do trecho da Estrada de Ferro Bahia e Minas entre Aimorés e Teófilo Otoni, incluindo aí a estação que tem o nome dele (!?), segundo pesquisa do escritor Fernando da Matta Machado.

O distrito hoje

A economia do lugar é baseada em programas sociais e contra-cheques de funcionários públicos (Foto JCarlos)

Atualmente a economia do distrito de Pedro Versiani é baseada no Bolsa Família, proventos de aposentados, salários dos funcionários públicos lotados na localidade, na agropecuária e na extração de areia para construção civil. Não consegui os dados atualizados de população. Todas as buscas levam aos números do Censo de 2010 que indicavam cerca de 3.200 habitantes.

Enquanto Marcela e eu andávamos pelas ruas da localidade, conversei com um morador – cujo nome não perguntei – sobre a situação atual de Pedro Versiani. Ele foi curto e grosso na resposta: ” Perversiani era uma favela. Agora é uma sub-favela!” E nada mais disse e nem lhe foi perguntado.

Pronto! Com essa visita a “Perversiani” o meu enigma foi decifrado e já posso morrer em paz.

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