08 de setembro de 2023

Lupicínio – Uma biografia musical – A resenha de hoje

Por José Carlos Sá

Lupicio soi de compositor de música para *utas a ídolo da MPB (Fotos Divulgação e reprodução do livro)

Cresci ouvindo meu pai cantando enquanto tomava banho. O repertório dele tinha, entre outras, uma música (eu  soube depois) do Lupicínio Rodrigues, interpretada pelo seu Zé Carlos “na voz de Orlando Silva”. Lembro bem de Vingança por causa do verso “e a vergonha é a herança maior que o meu pai me deixou”. Pensei muito nessa frase durante minha vida.

Capa do livro que conta a trajetória do compositor que era uma gaúcho, preto e pobre (Divulgação)

Lendo o livro Lupicío – Uma biografia musical, do jornalista e músico Arthur de Faria (Arquipélago Editorial, Porto Alegre, 2023), vi que fui um entre milhares de brasileiros que aderiu à Jovem Guarda, Bossa Nova e outros modismos, achando que a música das décadas anteriores era “cafona”, para usar um termo de então. “É música de velho”, eu dizia e depois tive que ouvir de meus filhos a respeito do meu gosto musical.

Também igual a milhares de brasileiros, vi Lupicínio Rodrigues, Cartola, Nelson Cavaquinho, entre outros, serem resgatados do fundo dos tempos e se tornarem ídolos dos nossos ídolos. Ouvi Caetano veloso cantar Felicidade, Paulinho da Viola interpretar Nervos de Aço ou Gal Costa mostrando um jeito novo de cantar Volta, no show Índia, que assisti em Belo Horizonte, em 1974 – sobre isso, publiquei minhas impressões nos post sobre a morte da cantora, ano passado.

Cerenita (dançando com Lupicínio) e Relinda. Quem era a “estadual” e quem era a “federal” – quem era a “outra”? Lupicínio morou com as duas até a morte dele (Fotos Reprodução do livro)

De compositor de música para “*uta pobre de cabaré de fundo de beco”, como escreveu um jornalista, a gênio da música popular brasileira, reconhecido pouco antes de morrer, é o Lupicínio que o autor nos apresenta, mostrando os altos e baixos (mais baixos que altos) da vida dele, as musas inspiradoras e as músicas que resultaram dos dissabores amorosos.

Há trechos do livro que são feitos de músico para músicos. Não entendi nada, mas li tudo com a testa franzida, concordando e dizendo mentalmente “hum-hum”.

Achei o livro muito interessante, especialmente ao mostrar as contradições hipócritas no tratamento ao Lupicinio Rodrigues, que venceu apesar de ser um gaúcho preto e pobre, ter a língua presa e a voz “pequena” para ser cantor e compor samba fora do eixo Rio-São Paulo. Ficou como o expoente da dor-de-cotovelo e do chifre assimilado.