09 de novembro de 2022

Pesar

Por José Carlos Sá

Gal Costa no show Índia (Foto Thereza Eugênia/1974)

A Gal Costa, que nos deixou hoje, aumenta ainda mais o sentimento de orfandade das boas intérpretes da música brasileira. Eu considero, junto com a Elis Regina, as maiores cantoras que a minha geração conheceu. Pelas mãos de Gal ficamos conhecendo, entre outros, três compositores que prezo muito: Djavan, Luiz Melodia e Vander Lee.

Tive o privilégio de vê-la em dois momentos em Belo Horizonte. O show Índia, em 1974, do qual guardo na memória a interpretação sensual da música Volta, do Lupicínio Rodrigues (“Quantas noites não durmo /  A rolar-me na cama …”). O Teatro Marília estava lotado, pois no lançamento do disco de mesmo nome no ano anterior, a censura havia vetado as fotos da capa e contracapa e a embalagem precisou ser vendida dentro de um envelope de plástico azul. A curiosidade para ver a Gal era muita.

Capa censurada do LP Índia (Reprodução)

O motivo da censura a jornalista Lívia Venaglia explica: “Na parte da frente, Gal só de tanga vermelha, com close na parte de baixo, mostrando colares e uma saia indígena sendo retirada. Na contracapa, a foto trazia a parte de cima de Gal, com os colares cobrindo parcialmente os seios da cantora… ”

A outra vez foi turnê dos Doce Bárbaros que passou por Belo Horizonte em 1976. Caetano Veloso, Maria Betânia, Gilberto Gil e Gal Costa comemoravam dez anos das carreiras individuais e deram um presente ao Brasil.

Abre parentêses. O presente foi recusado pelos catarinenes, pois a polícia levou para a delegacia, antes da apresentação, os quatro baianos e alguns músicos. Gilberto Gil ficou preso e chegou a ser internado na Colônia Santana – aqui em São José da Terra Firme – para se “curar” do vício da maconha. Fecha parênteses.

Encerro com o voto de que a Gal Costa descanse em paz.

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