27 de abril de 2025

O susto no hotel

Por José Carlos Sá

Eu estava na garagem do hotel ou em outro lugar? (Imagem gerada por IA Freepik e editada por BN JCarlos)

O hotel estava cheio, e, mesmo com reserva antecipada, minha acomodação exigiu ajustes. Acabei aceitando um quarto no prédio anexo, sobre a garagem, sem vista — apenas uma janela voltada para uma parede e a visão do céu era impedida por telhas que já foram transparentes há muitos anos e hoje estão cobertas de limo.

A primeira noite foi tranquila. O cansaço me derrubou assim que encostei a cabeça no travesseiro. Já na segunda, após algumas tentativas frustradas de assistir TV, o sono veio, mas foi interrompido por um som familiar: o alarme do meu carro. Me sentei na cama e apurei os meus sete sentidos. Os cinco que uso habitualmente e os outros dois que a ciência diz que todos nós temos. 

Levantei, vesti-me às pressas e fui à garagem verificar. As luzes do corredor e da garagem – que acendem por sensores de presença – estavam apagadas e usei a lanterna do celular para iluminar o caminho. Ao chegar ao estacionamento, o barulho cessou, e o carro estava intacto. Estranho. Dei uma volta procurando um possível culpado — talvez um gato, um rato. Nada. Foi então que a luz do celular apagou sem explicação.

Sem iluminação, confiei no meu senso de direção e caminhei na escuridão, buscando a porta por onde entrara. Mas algo estava errado. O espaço parecia infinito. Não havia obstáculos, carros, nem paredes. O suor escorria enquanto eu tentava encontrar meu carro ou qualquer referência. 

Resolvi voltar para o meu carro e acender os faróis para encontrar a bendita porta  e retornar ao quarto para continuar a dormir. Fiz meia-volta e tentei voltar de onde eu saí. Caminhei, caminhei… e meu carro não estava mais lá.

Gritei, mas nenhum som saiu. A única opção foi sentar e esperar o amanhecer. Horas depois, a luz revelou algo impossível: eu estava a poucos metros do meu carro, cercado por veículos estacionados. Como poderia ter andado tanto sem esbarrar em nada?

Fui à recepção. Nenhum apagão fora registrado. Pedi para ver as imagens das câmeras de segurança. Lá estava eu, saindo do quarto e indo para a garagem. Mas então… nada. No vídeo da garagem, apenas carros estacionados.

Voltei ao meu quarto, tentando entender onde eu estive naquela madrugada. No átrio da  Mansão dos Mortos, como diz a Oração do Credo? Se fui lá, não vi ninguém… nem a dona da casa.

[Crônica LXVI/2025]

Tags

Crônica Hotel Suspense 

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