
Livreto editado pelo Grupo ND para o bicentenário da imigração alemã para Santa Catarina (Reprodução)
Ganhei da amiga jornalista Elaine Coelho um livreto, editado pelo Grupo ND, sobre os 200 anos da imigração alemã para o Brasil, que ocorreu oficialmente desde 1824, quando chegaram os primeiros 39 alemães a Porto Alegre (RS) e que seriam encaminhados à colônia formada em São Leopoldo, a 38 quilômetros da capital da província.
Depois outras levas de imigrantes foram chegando. Alguns ficaram no Rio de Janeiro, São Paulo, Espírito Santo, Minas Gerais e, no sul do Brasil, além do Rio Grande do Sul, se estabeleceram em Santa Catarina, a partir da Colônia de São Pedro de Alcântara, que na época, 1829, ainda fazia parte do município de N. S. do Desterro. Dali se espalharam para outras localidades onde a terra fosse mais propícia para desenvolver a agricultura.

As guerras na Europa, principalmente aquelas provocadas por Napoleão, incentivaram a fuga de alemães para outros país – Napoleão em tela de Charles de Steuben, de 1818 (Reprodução)
Os motivos da vinda das famílias de diversas regiões da Alemanha – que naquela época era formada por pequenos reinos e principados – foram basicamente três: as guerras em toda a Europa; a Revolução Industrial, atingindo a mão de obra agrícola e artesanal; e o clima prejudicando as colheitas, que somados geraram muita pobreza e fome.
Com uma campanha de incentivo à imigração pelo Império recém-implantado no Brasil, foi feita a divulgação na Europa, oferecendo a quem viesse terra para morar e plantar, animais para produção de alimentos, animais para tração de arado e transporte, além de sementes e ferramentas. Como acontece em todo o governo, nem tudo que é prometido é cumprido.
Os alemães e imigrantes de outras nacionalidades tiveram que se adaptar ao idioma, clima e às espécies vegetais que serviam de alimentação aqui e que não havia do outro lado do Oceano Atlântico, como a mandioca, por exemplo, um tubérculo de mil e uma utilidades.
Vencidas as inúmeras dificuldades, os imigrantes alemães que vieram para Santa Catarina deram ao estado uma característica européia, que serve como atrativo turístico, animado por eventos como a Oktoberfest, por exemplo. Ainda há a indústria que se desenvolveu a partir dos conhecimentos trazidos e aplicados no Brasil.
O livreto mostra também os imigrantes que se tornaram grandes empresários e que as novas gerações deram continuidade às iniciativas, além dos descendentes que se destacaram em diferentes segmentos esportivos e culturais. Foram citados Gustavo “Guga” Kuerten, tenista, Vera Fischer, atriz, Sylvio Back, cineasta, e Juarez Busch Machado, artista plástico. Admiro a todos eles.
Nas ciências, destaques para o professor, médico e naturalista Fritz Müller e para o entomologista Fritz Plaumann.
(Abro parênteses)
Ao citar a presença de alemães que foram morar em colônias de outras regiões do país, é publicada a foto de uma igreja com a seguinte legenda: “Igreja luterana em Teófilo Otoni (MG), fundada pelo pastor Hollerbach, o primeiro pastor alemão no Vale do Mucuri”.
Ora, Teófilo Otoni é minha cidade natal e como sempre faço, fui atrás da história da igreja e do pastor Leonhard Hollerbach. O templo mostrado na foto realmente é luterano e fica em Teófilo Otoni, mas ele não foi fundado pelo pastor citado. A primeira igreja construída e inaugurada pelo pastor era provisória e foi erguida logo depois da chegada dos imigrantes alemães à região em 1862.
Mais tarde um novo local de culto foi construído no bairro Grão-Pará, hoje Praça Germânica, mas este foi destruído por fanáticos nacionalistas na época da Guerra Mundial. A igreja que chamou minha atenção foi erguida depois de uma divisão (o chamado “racha”) entre os luteranos, dando início à Comunidade Evangélica Luterana, que se reúne no prédio construído, aí sim, na rua Pastor Hollerbach.
(Parênteses fechados)
O livreto “Raízes Germânicas – Os 200 anos da imigração alemã no Brasil, as primeiras colônias em Santa Catarina e um legado inestimável” foi editado pelo Grupo ND (Florianópolis, sem data), abordando diversos aspectos da influência dos imigrantes na “arquitetura, religiosidade, indústria, transporte, cultura, educação, meios de comunicação e outros temas”. A publicação vem sendo distribuída em eventos relacionados ao bicentenário da imigração alemã para o Brasil.
Obrigado, Elaine.
[Resenha XI/2025]