Aprendi, quando criança, que no ônibus, ou em qualquer outro local onde estivesse sentado e chegasse alguém mais velho, era meu dever me levantar e ceder o lugar imediatamente.
Ainda sigo esse código de conduta, mesmo estando – tecnicamente – entre a classe dos idosos e sem poder ficar muito tempo em pé. Não importa; ainda assim me levanto para grávidas, pessoas com crianças no colo, idosos ou qualquer PCD.
O que observo no transporte coletivo, nas salas de espera e em qualquer espaço onde haja mais gente do que assentos disponíveis, é que nós, do chamado grupo prioritário, nos tornamos invisíveis para as pessoas de outras idades e condições.
Por sermos invisíveis, quem está sentado continua olhando fixo na tela do celular, absorto no que vê ali. Se estão ouvindo música ou louvor, olham para a paisagem, mas sem realmente enxergar. Antigamente fingiam que estavam dormindo.
Só quem percebe os velhos são os outros velhos. Quando embarca no ônibus um idoso mais fragilizado do que o passageiro já presente, este se levanta, cede o lugar e fica em pé até que alguém desembarque para que ele possa se sentar.
A invisibilidade se manifesta também em outros lugares, como ruas, shoppings e praias. As pessoas passam, esbarram sem pedir licença e seguem sem pedir desculpas.
E então faço a pergunta retórica: “Para onde caminha a humanidade?”
Certamente, não é em busca da gentileza perdida.
[Crônica XXXIV/2025]