Esse artista fazia malabarismo com o que tinha à mão. Aqui, ele usa cocos vazios (Foto JCarlos – Porto Velho – RO em 05082012/desfoque Photoroom)
Vi ontem em um semáforo no bairro Praia Comprida, aqui em São José, um malabarista usando facões para fazer a sua demonstração de agilidade e lembrei de um colega dele, em Porto Velho, que usava qualquer coisa no lugar dos malabares.
Coco verde, pedras, pedaços de pau com estopa flamejante na ponta, latinhas de cerveja ou refrigerante, garrafas PET cheias d’água, garrafas de vodca (vazias) e até bolas de borracha. O “até” é porque as bolas ficam exóticas no meio dos objetos que ele arremessa e apanhava no ar.
A performance do artista de rua não tinha horário, bastava estar com fome ou necessitando de um, digamos, estimulante, para sair da casa abandonada em que morava e ir para o meio da rua dar o show e ir de carro em carro pedindo “um real”, mesmo quando errava e deixava cair as peças no chão. Ele fazia uma reverência aos carros parados e ia fazer a coleta.
Malabarismo de risco (Foto JCarlos – Porto Velho – RO em 23042014 / desfoque Photoroom)
Uma tarde parei em frente ao “picadeiro” dele quando o artista fazia malabarismo com quatro terçados. Quando ele veio recolher o couvert artístico, a Marcela perguntou a ele se não era perigoso fazer malabarismos com facões. Ele sorriu, meneando a cabeça, negando ter risco.
– Mas você não se machuca? Marcela insistiu.
Sempre sorrindo, o artista apontou para a própria boca onde se destacava um dente incisivo quebrado (Incisivo é o dente da frente, pra ti que esqueceu das aulas de anatomia).
[Crônica XXVII/2025]