De tempos em tempos, às vezes com um intervalo muito longo, outras nem tanto, a imprensa publica e a opinião pública repercute a opinião de algum cientista, pesquisador ou um simples autodidata, que cisma com algum alimento e o inscreve no index ciborum prohibitorum (ou relação de comidas proibidas, para ti que não fala latim).
Hoje em dia, a disseminação da lista o que “faz mal” fica por conta do “tio do Zapzap” ou da “influencer do Tik-Tok”, sem querer desmerecer nenhuma dessas instituições consagradas na arte de espalhar bobagens.
A Folha de S. Paulo traz hoje uma matéria da BBC News inocentando o ovo de algumas das maldizenças que ele carrega e que já fez com que fosse proscrito das mesas. O alto teor de colesterol é um deles.
Esse tema não é dos meus favoritos, mas gosto de ovo em todas as suas variáveis culinária e por isso mergulhei na longa reportagem. A certa altura a redatora escreveu uma frase que é daquelas que podem ser definidas como: “nem sim nem não, muito antes, pelo contrário”:
“O colesterol, uma gordura amarelada produzida no fígado e no intestino, pode ser encontrada em todas as células do nosso corpo. Normalmente pensamos nele como “ruim”, mas na verdade o colesterol é um componente essencial das membranas celulares. Ele é também necessário para que o corpo produza a vitamina D e os hormônios testosterona e estrogênio”.
Pelo que eu (não) entendi, não é pecado comer ovos. O que não pode é comê-los em excesso, como dizia meu pai, “tudo demais é sobra”.
Na minha vida vi e continuo vendo as listas de alimentos que são proibidos em uma época e santificados em outra. No caso dos ovos, os prós e contras travam uma batalha infinita igual aquela do Oriente Médio, sem acordo ou cessar fogo duradouro.
Foram proscritos e reabilitados, apenas consultando as vozes da minha cabeça: o café, o mate, o vinho, o arroz, o sal, o açúcar, o adoçante artificial, o mel, a margarina, o óleo de soja, as batatas, o trigo e derivados (pães, pizzas, bolos, biscoitos etc.), o leite e derivados (queijo, iogurte, manteiga etc.), as frutas secas, carnes vermelhas e embutidos, picles de vegetais e outros.
Fala fino
Minha família ainda morava em Teófilo Otoni quando surgiu uma campanha, não sei de onde, sugerindo o boicote da carne bovina. Diziam (ouvi os comentários na minha casa e na casa das avós) que devido aos remédios (hormônios) que os produtores aplicavam nas vacas para que a engorda fosse rápida até o ponto de abate, ficavam impregnados na carne e que ao ser consumida provocava efeitos colaterais.
Não me lembro que efeitos deletérios provocavam nas mulheres, mas os homens que consumissem a carne “contaminada” passariam a falar fino. Mesmo meu pai sendo machista, continuamos a consumir a carne do mesmo açougue em que era comprada habitualmente.
Muitos anos depois, ouvi a mesmíssima história com relação aos frangos. Hoje eu sei que quem espalha isso são os produtores de carnes de outros bichos, como por exemplo: “O frango está cheio de hormônios”, dizem os produtores de bovinos e suínos; ou “carne de porco provoca AVC”, afirmam os avicultores e criadores de gado.
Pesquisa vai, pesquisa vem e continuo comendo tudo que eu gosto sem remorso.
[Crônica XI/2025]