
Quem não viveu isso quando criança? (Imagem básica gerada por IA Designer Microsoft/Montagem JCarlos)
Um homem entrou com o filho no ônibus em que eu estava e entregou ao motorista o dinheiro da passagem. O profissional do volante apontou para o menino – de uns sete anos – e disse: “Ele também paga!”
O pai, contrariado, catou uns caraminguás no bolso e fez o pagamento. O rosto do menino, quando passava sozinho pela catraca, estava iluminado por um sorriso.
Talvez ele já estivesse acostumado a rastejar no chão sujo do ônibus para passar sob a roleta, ou ser imprensado contra o metal, passando na borboleta junto com um irmão ou mesmo com um dos pais.
Quem já viveu isso, compreende o sorriso (de alívio?) do menino.
Vamos, meu filho, passa aí!
Meus irmãos e eu vivemos a mesma experiência muitas vezes. Os três filhos mais velhos, quando saíamos com D. Nilta, quem podia passava sob a roleta. Eu, sempre gordinho, era o “sorteado” para passar com ela, ambos espremidos entre os ferros.
Além da vergonha que sentia, ainda doía muito os breves segundos que ficava confinado entre o corpo da minha mãe e os ferros da catraca. Um ou outro cobrador mais legal (ou compreensivo) falava para eu pular a roleta, mas eu preferia o aperto, pois não conseguia escalar o equipamento, ultrapassar a barreira e descer do outro lado com o ônibus em movimento e chocalhando muito.
Agradeci a Deus quando alcancei a idade em que era “obrigado” a pagar passagens, condição que só vim deixar há pouco mais de quatro anos. Agora, além de passar sozinho na roleta, não pago!
[Crônica VII/2025]