11 de janeiro de 2025

Espremido na catraca

Por José Carlos Sá

Quem não viveu isso quando criança? (Imagem básica gerada por IA Designer Microsoft/Montagem JCarlos)

Um homem entrou com o filho no ônibus em que eu estava e entregou ao motorista o dinheiro da passagem. O profissional do volante apontou para o menino – de uns sete anos – e disse: “Ele também paga!” 

O pai, contrariado, catou uns caraminguás no bolso e fez o pagamento. O rosto do menino, quando passava sozinho pela catraca, estava iluminado por um sorriso.

Talvez ele já estivesse acostumado a rastejar no chão sujo do ônibus para passar sob a roleta, ou ser imprensado contra o metal, passando na borboleta junto com um irmão ou mesmo com um dos pais. 

Quem já viveu isso, compreende o sorriso (de alívio?) do menino.

Vamos, meu filho, passa aí!

Meus irmãos e eu vivemos a mesma experiência muitas vezes. Os três filhos mais velhos, quando saíamos com D. Nilta, quem podia passava sob a roleta. Eu, sempre gordinho, era o “sorteado” para passar com ela, ambos espremidos entre os ferros.

Além da vergonha que sentia, ainda doía muito os breves segundos que ficava confinado entre o corpo da minha mãe e os ferros da catraca. Um ou outro cobrador mais legal (ou compreensivo) falava para eu pular a roleta, mas eu preferia o aperto, pois não conseguia escalar o equipamento, ultrapassar a barreira e descer do outro lado com o ônibus em movimento e chocalhando muito.

Agradeci a Deus quando alcancei a idade em que era “obrigado” a pagar passagens, condição que só vim deixar há pouco mais de quatro anos. Agora, além de passar sozinho na roleta, não pago!

[Crônica VII/2025]

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Cobrador de ônibus Crônica D. Nilta Motoristas de onibus Ônibus coletivo urbano 

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