Das várias revoltas e revoluções que aconteceram no Sul do Brasil na época do Império e na recém-proclamada República, a Revolução Federalista é aquela que, na minha opinião, deixou feridas não cicatrizadas entre o povo catarinense. E as feridas estão no coração e na memória.
Talvez a principal chaga que não sara foi aquela aberta em 1° de outubro de 1894, quando o governador Hercílio Luz – há três dias no cargo – assinou o decreto mudando o nome da capital catarinense de Nossa Senhora do Desterro para Florianópolis. Aquele seria o ápice da vingança contra aqueles que pegaram em armas, ou só torceram, contra o então presidente Floriano Peixoto, nas revoltas da Armada (a segunda) e a Federalista.
Um evento que aconteceu há 130 anos está sendo revivido na exposição “Federalismo – A revolução que Abalou Santa Catarina”, que está à disposição dos interessados no Museu Histórico de Santa Catarina – Palácio Cruz e Souza, até novembro de 2025.
A exposição
A revolta federalista é bem explicada através de painéis com textos, gráficos e fotos, que ajudam a entender os papéis desempenhados por cada um dos participantes da guerra civil que aconteceu entre 1893 e 1894. Tanto a segunda revolta da Armada (Marinha), quanto a revolta federalista, começaram em outros lugares – Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, respectivamente – e desaguaram na pacata cidade de Nossa Senhora dos Desterro, na Ilha de Santa Catarina.
O “Massacre de Anhatomirim”, onde foram fuzilados ou enforcados sumariamente centenas de pessoas (o número varia de 185 a mais de 300), serviu como um aviso a todo o país de que Floriano Peixoto não estava para brincadeira.
O fato é lembrado com uma maquete da Fortaleza de Santa Cruz, construída na Ilha de Anhatomirim, na baía norte em frente à Ilha de Santa Catarina, e sobre a maquete foi instalado um móbile, onde estão representados os mortos daquele episódio.
Também há referência a mudanças nos nomes das ruas da capital catarinense para se adaptarem ao regime republicano, além de armas, documentos e outros objetos que contam a história de uma revolução que não era dos desterrenses, mas cuja fatura foi paga por eles.
A importância do registro
Entre as últimas peças em exposição, já na saída, foi colocada uma máquina de datilografia, da marca Smith-Corona, modelo 1949, que me fez levantar o sobrolho e franzir a testa. Mentalmente pensei: “O que esta máquina tem a ver com a revolta federalista, meu Deus? Ela é completamente anacrônica ao que está sendo mostrado aqui”
A curadoria da mostra, já antecipando pensamentos como o meu, deixou uma folha de papel na máquina com o seguinte recado: “Desterro, 12 de novembro de 2024 // Prezados e prezadas visitantes // Sim, sim, a gente sabe que esta máquina de escrever ainda não existia em 1893. Mas ela está aqui, como objeto decorativo, porque foi uma ferramenta usada, por muitas décadas, por escritores. E este canto da exposição mostra, nesses murais, trechos do que se escreveu, ao longo também de muito tempo, sobre os eventos que abalaram Santa Catarina e acabaram por trocar o nome da capital do estado, depois de uma Guerra Civil. (…)” .
Eu acho que explica, mas não justifica.
Serviço:
O quê: Exposição “Federalismo – A revolução que abalou Santa Catarina”
Onde: Museu Histórico de Santa Catarina – Palácio Cruz e Sousa
Visitação: até novembro de 2025. De terça a sexta-feira, das 10h às 17h30; e aos sábados, das 10h às 13h30.
Entrada gratuita