28 de novembro de 2024

Uma revolta de triste memória

Por José Carlos Sá

Material de divulgação da exposição sobre a Revolta Federalista (reprodução)

Das várias revoltas e revoluções que aconteceram no Sul do Brasil na época do Império e na recém-proclamada República, a Revolução Federalista é aquela que, na minha opinião, deixou feridas não cicatrizadas entre o povo catarinense. E as feridas estão no coração e na memória.

Hercílio Luz, no cargo de governador há três dias, assinou decreto mudando o nome da capital de Santa Catarina (Foto JCarlos)

Talvez a principal chaga que não sara foi aquela aberta em 1° de outubro de 1894, quando o governador Hercílio Luz – há três dias no cargo – assinou o decreto mudando o nome da capital catarinense de Nossa Senhora do Desterro para Florianópolis. Aquele seria o ápice da vingança contra aqueles que pegaram em armas, ou só torceram, contra o então presidente Floriano Peixoto, nas revoltas da Armada (a segunda) e a Federalista.

Um evento que aconteceu há 130 anos está sendo revivido na exposição “Federalismo – A revolução que Abalou Santa Catarina”, que está à disposição dos interessados no Museu Histórico de Santa Catarina – Palácio Cruz e Souza, até novembro de 2025.

A exposição

A revolta federalista é bem explicada através de painéis com textos, gráficos e fotos, que ajudam a entender os papéis desempenhados por cada um dos participantes da guerra civil que aconteceu entre 1893 e 1894. Tanto a segunda revolta da Armada (Marinha), quanto a revolta federalista, começaram em outros lugares – Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, respectivamente – e desaguaram na pacata cidade de Nossa Senhora dos Desterro, na Ilha de Santa Catarina.

Duas revoltas que aconteciam em outros lugares, resolveram se deslocar para a pacata Desterro (Foto JCarlos)

O “Massacre de Anhatomirim”, onde foram fuzilados ou enforcados sumariamente centenas de pessoas (o número varia de 185 a mais de 300), serviu como um  aviso a todo o país de que Floriano Peixoto não estava para brincadeira. 

Maquete da Fortaleza de Santa Cruz, na ilha de Anhatomirim, onde aconteceram os fuzilamentos dos implicados na Revolta Federalista (Foto JCarlos)

Móbile com fotos e silhuetas dos mortos por ordem de Moreira César (Foto JCarlos)

O fato é lembrado com uma maquete da Fortaleza de Santa Cruz, construída na Ilha de Anhatomirim, na baía norte em frente à Ilha de Santa Catarina, e sobre a maquete foi instalado um móbile, onde estão representados os mortos daquele episódio.

Nomes de ruas foram mudadas para se adaptar ao novo regime político do país (Foto JCarlos)

Metralhadora Nordenfelt, igual à usada na Revolução Federalista para defender o “Palácio do Governo” (Foto JCarlos)

Também há referência a mudanças nos nomes das ruas da capital catarinense para se adaptarem ao regime republicano, além de armas, documentos e outros objetos que contam a história de uma revolução que não era dos desterrenses, mas cuja fatura foi paga por eles. 

A importância do registro

Entre as últimas peças em exposição, já na saída, foi colocada uma máquina de datilografia, da marca Smith-Corona, modelo 1949, que me fez levantar o sobrolho e franzir a testa. Mentalmente pensei: “O que esta máquina tem a ver com a revolta federalista, meu Deus? Ela é completamente anacrônica ao que está sendo mostrado aqui”

“…eu sei, essa máquina não existia em 1893…” (Fotos JCarlos)

A curadoria da mostra, já antecipando pensamentos como o meu, deixou uma folha de papel na máquina com o seguinte recado: “Desterro, 12 de novembro de 2024 // Prezados e prezadas visitantes // Sim, sim, a gente sabe que esta máquina de escrever ainda não existia em 1893. Mas ela está aqui, como objeto decorativo, porque foi uma ferramenta usada, por muitas décadas, por escritores. E este canto da exposição mostra, nesses murais, trechos do que se escreveu, ao longo também de muito tempo, sobre os eventos que abalaram Santa Catarina e acabaram por trocar o nome da capital do estado, depois de uma Guerra Civil. (…)” .

Eu acho que explica, mas não justifica. 

 Serviço:

O quê: Exposição “Federalismo – A revolução que abalou Santa Catarina”

Onde: Museu Histórico de Santa Catarina – Palácio Cruz e Sousa

Visitação: até novembro de 2025. De terça a sexta-feira, das 10h às 17h30; e aos sábados, das 10h às 13h30. 

Entrada gratuita