O sotaque, sabemos, é um dos ítens que identificam a origem das pessoas. “As alterações no pronunciar determinadas palavras ou fonemas podem identificar onde uma pessoa nasceu”, diz a teoria. Particularmente, o meu sotaque mineiro já está desgastado pelos muitos anos que não moro mais no Estado. Às vezes ele me denuncia, outras vezes passa despercebido.
Quando nos mudamos para Santa Catarina era muito comum alguém com quem estávamos conversando interromper o papo para perguntar de onde éramos.
No bate-e-volta que fiz a Minas esses dias, tive duas experiências distintas, com elos comuns: o jeito de falar e o gosto por determinados pratos da culinária mineira.
Teste do Pão de Queijo
Na padaria “Pão Nosso” – nome muito original, por sinal – eu vi uns rolinhos amarelos, finos e compridos, embalados em saquinhos de plástico. Perguntei o que era aquela guloseima.
– É o “cubu”, uai! Lá na roça, eles faz com páia de bananêra.
– Hein? Perguntei pois não me lembrava do nome.
– É feito de uma massa de fubá com recheio de ‘quej’…O senhor vai querer provar um?
– Não, muito obrigado. Sou um mineiro fora da curva, não aprecio comidas com derivados de milho…
– Mas de pandiquej, o senhor gosta…
– Uai! Pandiquej não leva mí, não…
Misturado
Em uma das corridas usando Uber, a motorista falava sem parar e eu só comentava alguma coisa do que ele dizia. Quase chegando no destino e, acho, sem mais assuntos, ela me perguntou:
– O senhor é de onde?
– Sou mineiro, de Teófilo Otoni.
– Não percebi, não, o sotaque do senhor é todo misturado.
Fiquei sem saber se ela estava me dizendo que sou cosmopolita agora ou que eu perdi minhas raízes mineiras.
Não sei.
[Crônica CLXVI/2024]