Eu saio para a academia alguns minutos antes das seis horas da manhã, que nesta época do ano o céu ainda está escuro. Por causa do frio dos últimos meses, faço o deslocamento de carro e hoje ouvi no rádio a informação que logo mais será apresentado ao presidente Lula um relatório sugerindo a adoção, novamente, do horário de verão no Brasil.
O argumento a ser usado para convencer o presidente a adotar a medida é o mesmo que já foi usado em anos anteriores: a seca recorde, que reduziu o nível dos reservatórios das hidrelétricas, e o aumento do consumo de energia devido ao calor. O horário de verão vinha sendo seguido no Brasil anualmente desde 1985, até ser extinto em 2019, pelo ex-presidente Jair Bolsonaro. De 1931 a 1985, a adesão brasileira à prática de adiantar os relógios em uma hora foi irregular, com anos “sim” e outros “não”, de acordo com as cabeças de quem estava no poder.
Não tenho uma opinião formada sobre o assunto. No começo, acho estranho, mas assim que me acostumo, fica bom. Quando acaba o período, passo por nova adaptação e vou vivendo.
Emoção infantil
Quando ouvi a notícia sobre o horário de verão na manhã de hoje, me lembrei de um episódio da minha infância. Eu tinha na época oito anos e estava na segunda série do primário.
Minha família morava no Morro do Cemitério, em Teófilo Otoni (MG), e eu estudava no centro da cidade, a uma distância aproximada de um quilômetro da casa dos meus pais. Como eu passava a semana na casa das avós, a duas quadras da escola, eu saía para a aula perto da hora de “tocar o sinal” do início das aulas.
Mas naquele dia eu tinha dormido na minha casa e o governo adotou o horário de verão no ano anterior (1963). Quando saí no quintal, já uniformizado, me dei conta que o dia ainda não tinha amanhecido. O céu estava escuro – talvez alguma estrela estivesse visível a olho nu – e o sol não tinha aparecido.
Fui tomado de uma emoção que não sei descrever. Eu ia andar pelas ruas “de madrugada”, no escuro e, o melhor, sozinho! Só para ter um parâmetro para minha alegria, o meu horário de dormir era as 19 horas, quando muito, às 8 da noite.
O meu sonho era ir um dia (ou noite, melhor dizendo) à “Missa do Galo”, que naquela época era celebrada à meia noite do dia 24 para o dia 25 de dezembro. Nunca fui à cerimônia, nem depois de adulto. Hoje a Missa do Galo é celebrada em outros horários, até às 19 horas do dia de natal! Desse jeito não tem mais graça.
Assim, mesmo que o horário de verão venha ou não trazer economia para o país, o significado dele, para mim, é muito diferente e próprio.
[Crônica CXXVIII/2024]