Nossa família se mudou para Belo Horizonte na metade da década de 1960, quando a ferrovia em que meus pais trabalhavam foi extinta. A capital, para mim, criança pequena de oito anos, era uma maravilha.
Cada vez que ia ao centro da cidade – morávamos no bairro da Pompéia – com mãe, eu olhava admirado para os prédios altos, a quantidade de pessoas e carros, aquele tumulto que minha cidade, Teófilo Otoni, não tinha (hoje tem). Cada descoberta era superada por outra maior. Por exemplo, fiquei maravilhado pela escada rolante até conhecer o elevador!
Em BH também tivemos acesso à televisão, não na nossa casa, mas em uma vizinha que nos convidava para ir assistir aos programas de fim de tarde com os sobrinhos dela. Entre as atrações, o Super Homem!
Ainda sei uma parte do prefixo do programa: “- Mais rápido que a bala de um revólver! Mais poderoso que uma locomotiva! Capaz de pular edifícios altos em um único salto! (- Olha! Lá no céu! – É um pássaro! – É uma avião! – É o Super Homem!) – Sim é o Super Homem, estranho visitante de outro planeta, que veio à Terra com poderes sobrenaturais. Que pode mudar o curso de rios, dobrar aço em suas mãos [não lembro do resto]. As aventuras do Super Homem!”
Fãs do super-herói, meu irmão Paíto (Paulo Roberto) e eu, fomos seduzidos por um anúncio da Casa Guanabara, que dava como brinde capas do Super-Homem nas compras a partir de um valor. D. Nilta, nossa mãe, não teve mais sossego até fazer uma compra na loja e ganharmos as benditas capas.
Como não tínhamos os poderes que o Super-Homem tinha, trazidos de Krypton, precisamos encontrar uma “rampa de salto” para podermos tomar impulso e voar. O local mais adequado encontrado para isso foi a cabeceira da cama dos nossos pais.
Era pular (voar), cair e ouvir o barulho de madeira se quebrando. A Lei da Gravidade não nos permitia ajudar o Super-Homem nos perrengues dele.
Destruímos o estrado da cama, que remendamos com ripas de madeira, amarradas com barbante ou fixadas com pregos. A cama nunca mais foi a mesma, mas vivemos, Paíto e eu, grandes aventuras pelos céus da nossa Metrópolis imaginária…
[Crônica CXI/2024]