
O mosquetão era a primeira arma que aprendíamos a manusear no serviço militar (Foto Blog Lampião Aceso.Com)
Durante o serviço militar, a segunda maior expectativa dos recrutas era manusear as armas e dar tiros. A primeira, sem dúvida, era usar o uniforme.
Quanto às armas, primeiro fomos apresentados ao mosquetão, arma antiga, modelo Mauser 1922, com alavanca de manejo e capacidade para cinco tiros. Com ele fazíamos exercícios de marcha, continência e outras manobras.
Aprendemos a desmontar e a montar o fuzil com os olhos vendados e, antes de irmos para o estande de tiro, fizemos uma prévia dando tiros de festim, observando todos os cuidados de segurança que teríamos que observar no dia do tiro real.
Tiro no arame
Chegado o esperado dia, vestimos a farda de serviço, com camisa de manga comprida – habitualmente usávamos camiseta branca, calças e botas (‘bate-bute’). Na cabeça, o boné de aba quadrada, conhecido como “bico de pato”. Nos dirigimos para o arsenal, onde recebemos o armamento: o mosquetão, com baioneta, e cinco cartuchos de munição real.
Em fila indiana, fomos para o estande de tiro, que ficava do outro lado da pista do aeroporto da Pampulha, de Belo Horizonte, naquela época, 1976, o principal aeroporto de Minas Gerais.
Fomos divididos em grupos e quem estava em posição de tiro – em pé, deitado e ajoelhado – ficava isolado dos demais. Os sargentos acompanhavam individualmente os atiradores e os cabos mantinham os recrutas que esperavam sentados no chão, para evitar acidentes.
Na última rodada, o recruta 36, Xavier, conseguiu um feito inédito. Ele errou os cinco tiros, deixando o alvo intacto. Peraí. Intacto, intacto, não. O 36 acertou um dos arames em que a estrutura do alvo estava pendurada.
Com a moldura pendente, e sob a risada geral da tropa, Xavier recebeu mais cinco cartuchos e a intimação feita pelo sargento-instrutor: “Você vai ter que acertar o outro arame. Se não conseguir, vai ficar preso até o fim do recrutamento!”
Se ele não acertou um alvo com as dimensões de 104 x 103 cm, como iria acertar um fio de arame de alguns milímetros? Quanto à cadeia, era só um “incentivo”.
Ainda bem que o Brasil não é um país beligerante, senão…
* Homenagem ao Adoniran Barbosa
[Crônica LXXXVI/2024]