20 de junho de 2024

O bicheiro do tempo

Por José Carlos Sá

O cara fica no canto da padaria e faz prognósticos meteorológicos até para quem não pergunta (Imagem gerada por IA Copiloto/Microsoft.Com)

Na manhã de domingo, dia 16, o tempo estava um pouco nublado, o sol prometia aparecer e a temperatura já começava a subir. Enquanto eu fazia os meus pedidos no balcão da padaria, ouvi uma conversa de que naquele dia não choveria, mas que na quinta-feira (hoje, 20) chegaria uma frente fria, vinda do Rio Grande do Sul. “Podes preparar o guarda-chuvas”.

Desde que chegamos a Santa Catarina, ficamos cientes da instabilidade do tempo e notamos que os assuntos “clima” e “tempo” são temas recorrentes das conversas mais banais. O tema faz parte dos cumprimentos diários: “Bom dia! E esse friozinho, hein?” “Oi, ‘ixtimado’”! Que chuva!” E por aí vai. 

No entanto, em matéria de previsão das condições meteorológicas a curto prazo, só tem uma instituição confiável, infalível, precisa e que não erra nenhum prognóstico.

Epagri/Ciram*? Não. Douglas Márcio, o homem-do-tempo da NSC TV? Muito menos. A Defesa Civil? Também não. 

Quem acerta mesmo a previsão do tempo na Grande Florianópolis é o seu Menino, apontador (ou captador) de apostas no ramo de jogos zoológicos**, que faz ponto na padaria todas as manhãs. 

Precisão comprovada

Ele fica sentado em uma mesa no cantinho, com uma gaiola com um trinca-ferro ao lado, e às voltas com o caderninho de apostas. Quando entra algum freguês da padaria, seja seu cliente ou um conhecido, o cara faz o prognóstico climático, mesmo sem ter sido perguntado.

– Ô “quiridu”! Tudo certinho? Já estás preparado para a frente fria? Vai chegar uma na quinta-feira. Podes preparar o casaquinho, o guarda-chuvas…

E o cara não erra! 

Seria o caso da Defesa Civil contratá-lo para prevenir desastres? 

Há um precedente para a contratação de supostos previdentes – ou meteorologistas amadores – no Estado do Rio de Janeiro, que desde 2001 designa a Fundação Cacique Cobra Coral para assuntos de “intervenção mística” no tempo, para evitar que as intempéries atrapalhem a realização de eventos.

[Crônica LXXXIII/2024]

 * Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina / Centro de Informações de Recursos Ambientais e de Hidrometeorologia

** Antes do politicamente correto, era chamado de “bicheiro”