27 de maio de 2024

Garoto-propaganda improvisado

Por José Carlos Sá

Fui usado como propaganda do colégio (Ilustra gerada por IA & IN – Copilot/Microsoft.Com/JCarlos)

Terminei o segundo grau para cumprir uma vontade dos meus pais de que eu e meus irmãos tivéssemos a oportunidade que eles não tiveram. Concluído o curso, bem ou mal, dei por encerrada a minha vida escolar. Mas esqueci de consultar as deusas Moiras*.

No serviço militar um colega me convenceu a fazer o vestibular. Fiz, sem interesse algum, mais como companhia ao “17” – Bueno era o nome de guerra dele. Por eliminação, optei por  jornalismo. Os outros cursos eram letras, matemática e pedagogia. 

Para minha surpresa, fui aprovado. Animado com o resultado, resolvi cursar a faculdade. Para isso, fui ao colégio onde estudei para solicitar a confecção do histórico escolar, peça fundamental entre os documentos necessários à matrícula. O secretário do colégio era um predestinado e se chamava “Diaulas”. Além de conterrâneo, natural de Teófilo Otoni (MG), era colega de trabalho da minha mãe.

 Levei para a faculdade uma declaração que o histórico estava sendo preparado e esqueci do assunto, até ser chamado à secretaria que cobrou o documento. Voltei ao colégio e soube que, passados três meses, eles não tinham preparado o documento. Fiquei *uto e disse que esperaria a confecção e só sairia de lá com o histórico.

Me sentei na recepção da sala da diretora – em frente à secretaria – e esperei. A diretora entrava e saía da sala parecendo não me ver. Não perguntou nenhuma vez o que estava fazendo ali, e lá pelas tantas, foram conduzidos à diretora uma senhora acompanhada de um garoto. Pouco depois o Diaulas veio com uns papéis, entrando na sala, em seguida voltou e me chamou para acompanhá-lo.

A diretora se levantou da cadeira e veio em minha direção, passou o braço dela sob o meu e me conduziu aos visitantes falando:

– Veja a senhora, este aqui foi um aluno nosso e veio buscar o histórico escolar para se matricular na faculdade! Ele passou no vestibular! 

E se dirigindo a mim, perguntou:

– Para que curso?

– Jornalismo.

– Jornalismo? Que maravilha! A senhora pode matricular seu filho sem medo. O resultado está aqui! e apontou para mim.

Peguei o meu documento e saí de lá com a leve impressão de ter sido usado.

*Moiras – Deusas gregas do Destino

[Crônica LXIX/2024]

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Belo Horizonte Colégio São Vicente Diaulas Microsoft Mitologia grega Moiras Teófilo Otoni 

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