
Depois do cancelamento do passeio, andei cabisbaixo e indócil por uns dias (Imagem gerada por IA/Copiloto-Microsoft.Com)
Eu paquerava uma colega de escola da minha irmã, a Ana Maria, que ia lá em casa de vez em quando. Trocávamos olhares, recadinhos. Descobri que tipo de música ela gostava e quando nos visitava, a trilha sonora era, coincidentemente, as suas canções preferidas.
Sentindo que aquele flerte estava indo bem, resolvi dar um passo adiante: convidá-la para sair. Antes de fazer o convite, entrei no impasse: onde levá-la? Não poderia ser algo que terminasse tarde. Éramos adolescentes e naquela época – década de 1970 – os pais (ainda) regulavam os horários que os filhos podiam ficar na rua. Cinema? Um parque?Um circo? Onde, meu Deus? Onde?
A solução veio de uma forma espetacular. Alguém resolveu promover o primeiro festival de chope de Belo Horizonte, que foi divulgado em massa pela televisão e pelo rádio, além de outdoors nos pontos estratégicos da Grande Beagá.
Fiz o convite e ela aceitou de pronto, com a condição de levar a irmã. Sem problemas. Passei, então, aos preparativos. Adquiri os ingressos – da Ana Maria, o meu e o da “vela”; comprei uma camisa Waikiki, que era a moda na época e comecei a ensaiar o pedido de namoro, o primeiro beijo e tal.
Na véspera do tão aguardado dia, minha mãe se encontrou na rua com a mãe da Ana Maria e comentou sobre a saída programada. A minha ex-futura sogra deve ter feito cara de espanto, pois não sabia dos planos da filha. No sábado, ainda pela manhã, recebi o recado de que o programa – tão sonhado e planejado – estava suspenso e o motivo do cancelamento.
A frustração e o desapontamento foram resumidos em uma frase que eu disse para mãe: “A senhora e sua boca grande!” Depois saí de perto e não quis ouvir as explicações.
Fui ao festival de chope para não desperdiçar os ingressos e a camisa nova. Chateado e amuado, encontrei defeito em tudo que vi, mas sobre a festa contarei em outra oportunidade.
[Crônica LXVIII/2024]