Eu estava mexendo nas coisas, aqui no meu escritório, e encontrei um envelope fechado, sem destinatário. No verso, no local destinado ao registro do remetente, estava escrito apenas “Deus”.
Peguei o envelope, e lembrei o dia que me foi entregue.
Numa manhã de sábado, chamaram no portão. Em meio ao alarido do cachorral (obrigado, cunhada Kárita), atendi a duas senhoras que traziam “uma mensagem do Pai”.
Pedi desculpas pelo barulho dos cães e por não poder atendê-las com calma, pois estava de saída.
Elas compreenderam e agradeceram. Uma delas abriu a bolsa, retirou um envelope fechado e passou às minhas mãos dizendo: “Deus mandou entregar ao senhor”. Recebi o papel, agradeci, guardei e não pensei mais no assunto.
Hoje encontrei o envelope e ia abri-lo quando um turbilhão de pensamentos passou pela minha cabeça.
E se fosse uma intimação para eu comparecer perante o Juízo Final? E se eu tivesse que ter tomado conhecimento da convocação naquele sábado que recebi o envelope e não o fiz, será que fui julgado à revelia? No caso do julgamento ter acontecido, fui julgado culpado ou inocente? Tendo sido culpado, qual a pena? Uma temporada no Purgatório ou prisão perpétua no Inferno? Para o céu eu sei que não iria.
Decidi não abrir o envelope e “perdê-lo” de novo na bagunça da minha mesa.
Sabe-se lá o que tem dentro.
[Crônica LI/2024]