19 de abril de 2024

Uma carta de Deus

Por José Carlos Sá

O envelope tinah como remetente “Deus” (Montagem com imagem Freepik)

Eu estava mexendo nas coisas, aqui no meu escritório, e encontrei um envelope fechado, sem destinatário. No verso, no local destinado ao registro do remetente, estava escrito apenas “Deus”.

Peguei o envelope, e lembrei o dia que me foi entregue. 

Numa manhã de sábado, chamaram no portão. Em meio ao alarido do cachorral (obrigado, cunhada Kárita), atendi a duas senhoras que traziam “uma mensagem do Pai”.

Pedi desculpas pelo barulho dos cães e por não poder atendê-las com calma, pois estava de saída.

Elas compreenderam e agradeceram. Uma delas abriu a bolsa, retirou um envelope fechado e passou às minhas mãos dizendo: “Deus mandou entregar ao senhor”. Recebi o papel, agradeci, guardei e não pensei mais no assunto.

Hoje encontrei o envelope e ia abri-lo quando um turbilhão de pensamentos passou pela minha cabeça.

E se fosse uma intimação para eu comparecer perante o Juízo Final? E se eu tivesse que ter tomado conhecimento da convocação naquele sábado que recebi o envelope e não o fiz, será que fui julgado à revelia? No caso do julgamento ter acontecido, fui julgado culpado ou inocente? Tendo sido culpado, qual a pena? Uma temporada no Purgatório ou prisão perpétua no Inferno? Para o céu eu sei que não iria.

Decidi não abrir o envelope e “perdê-lo” de novo na bagunça da minha mesa.

Sabe-se lá o que tem dentro.

 

[Crônica LI/2024]

Tags

Céu Crônica Deus Inferno Karita Purgatório 

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