
Sonhei que eu era um pé de alface e fui escolhido para compor a salada (Ilustra gerada por I. A. Adobe/Firefly.Com)
Não. Não fumei nada, não bebi chá de cogumelos nem fiz uso de qualquer substância que alterasse meu sistema nervoso central. Apenas acordei e me lembrei do sonho que tive no último sono antes de levantar para o xixi da madrugada.
No início eu estava em uma cozinha, onde preparavam o almoço. Era um ambiente grande – acho que era uma casa – e muita gente se movimentando e falando ao mesmo tempo. A pessoa encarregada de preparar a salada foi me desfolhando, separando uma a uma as minhas folhas e as lavando cuidadosamente, procurando nas minhas axilas (!) se havia algum bichinho, alguma sujeirinha.
– Quê isso, dona! Sou uma alface limpinha! Pensei, mentindo e lembrando das colônias de cochonilhas que de vez em quando atacam nossa horta.
Depois de secas, fomos cuidadosamente arrumadas em uma saladeira, junto com rúcula, depois colocaram azeite (me senti toda melada), vinagre (arderam meus olhos), queijo parmesão ralado, mostarda, suco de limão e sal. Por fim acrescentaram pedacinhos de pão assado temperados com alho, alecrim e manteiga. Estavam fazendo a minha salada preferida – a Caeser. Lembrei que não era para mim, mas que eu fazia parte da salada…
Fomos para a mesa, que era enorme. Não sei quantas pessoas sentadas ao redor dela, num converseiro maior que aquele da cozinha. A travessa onde estávamos passava de mão em mão, até que fui escolhida e transferida para um prato.
Olhei quem foi o sorteado, era uma menina. Ela enrolou daqui, enrolou dali, e deu um jeito de não me comer – digo, de não comer a salada. Quando trocaram os pratos, voltei para a cozinha e fui deixada em um canto da pia. Mais tarde, fui novamente lavada, junto com outras irmãs enjeitadas e no final da tarde fomos levadas para o fundo do quintal onde um casal de coelhos brancos nos aguardavam de pé na cerca de tela.
Não sei como acabou, pois, felizmente, acordei antes.
[Crônica XXIX/2024]