É atribuída ao beato Antônio Conselheiro, que andou pelo sertão do nordeste brasileiro no início do século 19, aquela profecia que virou sucesso como música de Sá & Guarabyra: “O sertão vai virar mar e o mar vai virar sertão”. Muito antes de eu ter tomado conhecimento dessa história – profecia e música – ouvia meu pai dizendo que um dia o mar retomaria de volta tudo que tomaram dele.
Pai se referia aos aterros realizados na Baía Guanabara, no Rio de Janeiro, que foram concluídos e inaugurados por volta de 1965. E eu não sei em qual notícia ele se inspirou, mas acrescentava à previsão dele uma imagem que nunca saiu da minha cabeça: que apenas a estátua do Cristo Redentor ficaria fora d’água.
Todas as vezes que fui ao Rio de Janeiro a profecia do meu pai aflorava à minha mente e eu olhava em volta e pensava: Isso aqui tudo vai acabar, vai ficar tudo submerso… E olhava pra o Cristo Redentor lá em cima, na cota 709 metros acima do nível do mar. É muita coisa…
Estou contando isso – juntando Seu Zé Carlos, Antônio Conselheiro, Sá e Guarabira – por que li hoje uma notícia sobre o estudo divulgado pela agência Climate Central – especializada notícias relacionadas ao clima – onde são mostradas regiões que podem ser afetadas até 2030 com a elevação do nível das águas do mar. Segundo o texto, os cientistas acompanham o derretimento acelerado de geleiras e fazem projeções, usando modelações matemáticas, das áreas litorâneas que podem ser inundadas.
Curioso, fui olhar no mapa da inundação se a região em que moro será afetada. Também procurei como ficará o Rio de Janeiro e se aquela “profecia” do meu pai se realizaria. Os mapas estão aí abaixo. Estão marcadas em vermelho as áreas suscetíveis de inundação, de acordo com o estudo.
Não sei porque me preocupar. Em 2030 estarei bem seguro, pois haverá uma coluna de 1,70 de terra sobre mim, impedindo que o caixão flutue.
[Crônica XXV/2024]