17 de fevereiro de 2024

Antonieta de Barros, a história da primeira deputada negra do Brasil – A resenha de hoje

Por José Carlos Sá

Capa da primeira edição da biografia de Antonieta de Barros (Divulgação Editora Cais)

Comprei o livro “Antonieta de Barro: Professora, escritora, jornalista, primeira deputada catarinense e negra do Brasil” na época do lançamento, em meados de 2021, mas só agora é que consegui ler a obra. É um trabalho pesado de pesquisa feito pela professora Jeruse Romão que foi atrás da árvore genealógica da biografada, a professora Antonieta de Barros, que nos é mostrada desde as raízes até as folhas, ou seja, dos ancestrais até os descendentes de seus irmãos, já que ela não teve filhos.

Antonieta de Barros na década de 1920 (Divulgação Editora Cais)

A obra mostra a professora Antonieta em suas várias dimensões: filha, mulher, professora, política e religiosa; suas preocupações com o social, no combate ao analfabetismo e a permanente luta pela valorização da mulher na sociedade de Santa Catarina machista e racista das primeiras décadas do século 20. A professora morreu em 1952 e hoje, 72 anos depois do seu falecimento, as bandeiras que ela empunhavam continuam atuais.

Antonieta de Barros (1901-1952) e João da Cruz e Sousa (1861-1898) dois negros de destaque na história catarinense, retratados na obra de Osmarina e Paulo Villalva (Foto Facebook)

A autora fez um ótimo trabalho de contextualização, mostrando o cenário social e político de Florianópolis durante a vida de Antonieta e as relações que ela manteve com os diversos círculos de convivência, como citei mais acima: nas escolas, na religião e na política – seja na campanha eleitoral, seja no parlamento estadual. No entanto, não foi possível (pelo menos foi essa a minha percepção) colocar a professora Antonieta nas trincheiras antirracistas que aconteciam naquela época, diferente do irmão dela, o pintor Cristalino Barros, atuante nas associações e irmandades religiosas dos “homens de cor”.

A professora Antonieta de Barros no quintal de casa, década de 1930 (Divulgação Editora Cais)

Na educação, Antonieta lutou para que as concluíntes do curso normal (magistério), especialmente as de origem pobre, fossem contratadas pelo poder público para lecionar, sem precisar que algum padrinho político às indicasse. Outra batalha dela foi contra a “Lei do Celibato”, que proíbia o governo de contratar as normalistas que fossem casadas. É de autoria da deputada Antonieta de Barros, no segundo mandato, o projeto de lei que criou o Dia do Professor em Santa Catarina, dia 15 de outubro, e que só foi tornou um evento nacional em 1963 pelo então presidente João Goulart.

O livro “Antonieta de Barros: Professora, escritora, jornalista, primeira deputada catarinense e negra do Brasil” (Editora Cais, Florianópolis, 2021) mostra que a biografada foi muito mais que o título quilométrico da obra revela e que as homenagens feitas a ela ainda são pequenas perto do legado que deixou.

Vale a pena ler.