O meu interesse por mitologia faz com que os algorítimos (uma entidade quase mitológica para mim) encaminhem às minhas mãos assuntos relacionados ao tema. O mais recente, um post no X do Archaeo – Histories, que publica a foto da estátua de uma sereia no porto da aldeia de Mikladalur, localizada no arquipélogo dinamarquês Ilhas Faroé, que fica localizado no Oceano Atlântico, entre a Escócia e a Islândia, lá perto do Polo Norte.
A personagem homenageada chama-se Kópakonan (A Esposa da Foca), foi esculpida em bronze por Hans Pauli Olsen e instalada no porto de Mikladalur na ilha de Kalsoy, em agosto de 2014.
A lenda local conta que as selkies – as sereias no folclore irlandês, islandês e faroense – eram seres que viviam no mar como focas, mas podiam retirar a pele do animal para se tornarem em humanos e irem para a terra. Caso a pele de foca fosse perdida ou roubada, as selkies não poderiam mais retornar ao mar.
A estátua da selkie representa a personagem da seguinte história, que reproduzo do post, com tradução do Google:
“Uma história bem conhecida é sobre uma bela selkie presa por um pescador na ilha de Kalsoy, que certa noite esconde sua pele de foca enquanto está em terra. Prisioneira, ela se torna sua esposa e eles têm dois filhos. Um dia, porém, ele vai pescar e ela encontra a pele de foca escondida em um baú em sua casa. Ela foge de volta para sua família original, depois de garantir que as crianças sejam cuidadas até o retorno do pescador. Ela deixa uma mensagem para não segui-la e não prejudicar sua família selkie. Os pescadores, entretanto, ignoram o aviso e acabam matando o marido selkie e os filhos selkie. Como vingança, ela amaldiçoa os homens da ilha a morrerem em acidentes frequentes, até que morram tantos quantos possam dar os braços por toda a ilha”.
Meio trágico, né não?
Só Ulisses escapou

As sereias que tentaram Ulisses (ou Odisseu) foram retratadas por artistas de todas as épocas (Reprodução internet/Montagem JCarlos)
Todas as histórias que envolvem sereias que eu conheço sempre acabam mal para o freguês. Inclusive aquelas lendas das ondinas, que são as sereias de água doce.
Uma excessão é para a história de Ulisses, contada pelo poeta grego Homero (o “Pai” da História!). Segundo consta, Ulisses – na volta para casa, depois de ‘mil’ aventuras – foi avisado do perigo de uns seres que habitavam uma região da atual costa napolitana da Itália. Eram criaturas que tinham, da cintura para cima, o corpo de mulher e para baixo, rabo de peixe (há versões de aves – última pintura do mosaíco). Elas cantavam maravilhosa e suavemente, atraindo os marinheiros para as pedras, onde os barcos naufragavam e as tripulações eram devoradas pelos monstros disfarçados.
Sabendo disso, Ulisses fez com fosse amarrado ao mastro central de sua embarcação e os remadores taparam os ouvidos com cera. Com isso, conseguiram passar incólumes pelas sereias e chegaram a Ítaca.
Metaforicamente, hoje somos tentados por outros tipos de sereias e temos que estar amarrados ao mastro para não sucumbir às tentações.
Seja do que for.
(Crônica II/2024, de 30 e 31/01/2024)