No curto período em que morei no Rio de Janeiro, no final dos anos 1970, tive a oportunidade de visitar várias feiras de arte e artesanato, entre elas a tradicional Feira Hippie de Ipanema, que até hoje é realizada na Praça General Osório.
No domingo em que fomos ao local, o meu colega Antônio Tinoco ficou apaixonado por uma marionete, que muito bem manipulada, dançava, marchava, fazia estripulias. Depois de ficar muitos minutos vendo a apresentação, Tinoco resolveu comprar um bonequinho e levar para o sobrinho dele.
Durante a semana em que iríamos visitar as famílias em Belo Horizonte, Tinoco falava da expectativa de ver a alegria do sobrinho, com o presente que estava levando. No dia da viagem, o pacote do boneco foi o último a ser colocado na mala, com todo o cuidado.
Voltamos para o Rio de Janeiro em horários diferentes, e nos encontramos na manhã de segunda-feira. Curioso, fui logo perguntando: “O seu sobrinho gostou do boneco?”
Recebi como resposta um olhar atravessado e, entre dentes, Tinoco falou com raiva:
– Se eu pegar aquele cara, vou dar umas porradas nele. Me fez de bobo! Fiquei com cara de tacho na frente da família.
– Peraí, não entendi. O menino não gostou?
– A merda do boneco estava quebrado!
– Puxa vida! Vamos lá no domingo trocar. Me conta, como foi…
– Antes de abrir o pacote, falei que o boneco dançava, rodopiava, marchava. Tirei da embalagem e o boneco ficou lá em cima da mesa, deitado. Falei “levanta boneco!” e o boneco, nada. Tentei várias vezes e ele não se mexeu, ficava do jeito que eu colocava…
– Mas Tinoco, o boneco é uma marionete… Não tinha umas cordinhas amarradas a uma cruzeta? Pensei que você tivesse visto que era o cara quem manipulava o boneco lá na feira…
Gastei muitos argumentos para fazer o Tinoco entender que o boneco não estava vivo e que os movimentos eram ditados pelo titeiro por intermédio dos cordéis.
Inconformado, aceitou a explicação, mas não querendo dar o braço a torcer, meu colega me fez prometer que não contaria nada sobre o episódio para ninguém. Promessa que estou quebrando agora, só para os meus seis leitores…