11 de maio de 2023

Turismo de terror

Por José Carlos Sá

Com medo de ladrão, olho para todos os lados…

Na semana passada, a Marcela me sugeriu um artigo publicado na Folha sobre turismo com um título bem interessante: “Muitos lugares de má fama podem ser bastante atraentes para turistas”, do jornalista especializado em crítica culinária Josimar Melo. Ele defende a tese de que mesmo em locais onde houve problemas “políticos, econômicos e sociais em algum momento da sua história” é possível fazer turismo, desde que se disponha de “um mínimo de informação, para o turista evitar situações de risco”. E cita lugares como o México, a Colômbia, a Somália e o Curdistão iraquiano. Eu prefiro evitar.
Sempre que vamos viajar pesquisamos muito antes de fazer o nosso roteiro, lemos as dicas de outros viajantes e procuramos evitar perrengues. Se um turista conta que teve um problema em tal lugar, verifico se há outros casos relatados e quais as datas das ocorrências. Também busco no noticiário atual se aconteceram situações mais graves de segurança pública.

O Rio de Janeiro, ah, o Rio!

Desde menino tive sempre muita vontade de conhecer o Rio de Janeiro. Já contei muitas vezes aqui que a minha avó era assinante das revistas O Cruzeiro e Manchete, que publicavam fotos belíssimas do Rio de Janeiro, das praias, dos monumentos, do Corcovado, do Cristo Redentor… E eu tinha muita vontade de ir lá.
Durante seis meses em que participei de um curso durante o serviço militar, fiz turismo literário na cidade, visitando locais citados nos livros que eu tinha lido até então, não só de literatura, mas de história também.
Em 1994 participei de um evento para assessores de imprensa no escritório da CNI (Confederação Nacional da Indústria), que ainda era no Rio de Janeiro.
Alguns anos antes, em fevereiro de 1992, morreu o ator Older Cazarré, que trabalhava na TV Globo, que estava reexibindo na época uma novela em que ele atuava. Cazarré levou um tiro de fuzil no peito enquanto dormia no apartamento em Copacabana. O assunto foi explorado à exaustão. Perto da minha viagem surgiu alguma notícia nova sobre a morte e a imprensa requentou toda a tragédia em minúcias.
Quando o comandante do avião em que eu estava anunciou que tinha iniciado a descida para o Galeão, me deu uma suadeira, um ataque de pânico, que precisei de muito autocontrole para não gritar. Embarquei no taxi para o hotel já me sentindo alvo de balas perdidas na Linha Vermelha.
Para resumir. Só saí do hotel para a minha reunião, que acabou às 14h, de onde eu voltei correndo. Na madrugada seguinte fui para o aeroporto com a mesma sensação de ter um alvo desenhado na minha cabeça. Minha paz interior só voltou quando, no avião, apagaram as luzes de afivelar os cintos, já a quilômetros de distância da Cidade Maravilhosa.
Depois desse episódio, voltei ao Rio várias vezes, inclusive com a Marcela, sem, no entanto, me sentir à vontade como na primeira vez que fui lá.