20 de fevereiro de 2023

Preconceito idiota*

Por José Carlos Sá

Há alguns dias um assunto me incomoda. Ao voltar para casa assisti a uma discussão no ônibus que gerou uma exposição do preconceito que está guardado em algum lugar dentro de nós.

Um homem chamou o outro de “Manézinho” de uma forma que a palavra soou como um xingamento. Manézinho é como são designados informalmente os nascidos na Ilha de Santa Catarina que  descendem de açorianos. 

Maneca é o típico manézinho – Criação de Douglas Fereira, do Dezarranjo Ilheu, em defesa da cultura ilhoa (Reprodução)

Até início da década de 1990, quando o termo tinha um conotação pejorativa, um grupo de pessoas, lideradas pelo jornalista Aldírio Simões, resgatou o orgulho de ser ilhéu. A partir daí os costumes, jeito de viver e de falar, culturas e tradições trazidos pelos imigrantes açorianos passaram para outro patamar e hoje representam um dos atrativos turísticos de Florianópolis (Na primeira visita a Florianópolis vim curioso para ouvir o falar dos nativos).

Esse desprezo por pessoas simples, naturais do lugar, que representam as camadas mais pobres da população, é – infelizmente – uma prática recorrente. Em Brasília “candango”, nome dado aos operários da construção da capital do Brasil, passou a ser adjetivo depreciativo. Em Porto Velho (RO) “beradeiro” e “arigó” tinham tom de desprezo ao se referirem às pessoas nascidas na cidade ou oriundas do Nordeste, respectivamente. “Caiçara” em uma região do litoral do Rio de Janeiro e São Paulo, e “caipira” para o mineiro em geral eram um tipo de xingamento. 

Movimentos “regionalistas” (não me ocorre outro nome agora) lutam para a valorização das origens das populações tradicionais, mas nem sempre conseguem sucesso, como no caso que narrei acima, o dos manézinhos.

Um exemplo do resgate da lingua quéchua em um mapa anatômico (Reprodução)

Placas fotografadas em Cusco em nossa visita em 2016 (Fotos JCarlos)

Na nossa visita a um dos museus de arte religiosa (católica) em Cusco, o guia nos falou sobre o movimento de resgate aos costumes e à lingua nativa de antes da chegada dos europeus. O movimento começou na década de 1950 com a insistência de um professor de origem indígena. Na ocasião já havia chamado minha atenção as placas indicativas dos logradouros da cidade e áreas de serviços, que são grafados em quéchua.

Vamos combater essa idiotice. 

*A redundância do título é proposital, aviso antes que me lembrem isso.

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