A Folha S. Paulo, entre outros veículos de comunicação, está acompanhando a realização do Censo Demográfico 2022, que começou dia 1° de agosto em todo país. Na reportagem publicada dia 19, a constatação da prática do racismo explícito foi alvo de atenção. A matéria mostra casos relatados pelos recenseadores e supervisores que trabalham em São Paulo e Rio de Janeiro.
Aqui, em São José da Terra Firme, eu tenho anotado as experiências dos recenseadores que estão lotados no Posto de Coleta onde trabalho e, às vezes, o que narram me dá medo.
Os recenseadores são orientados a ler as perguntas conforme foram elaborados pelo pessoal técnico do IBGE e anotar as respostas, sem comentários ou juízos. Em caso de dúvida por parte do entrevistado, há a opção de ser lida a definição de cada uma das alternativas.
A pergunta é: “A sua cor ou raça é: Branca, Preta, Amarela, Parda ou Indígena?” Algumas respostas ouvidas pelos recenseadores do posto local:
– Branca, graças a Deus!
– Sou preta! (Moradora com todo o arquétipo do “loiro nórdico” descrito pelo personagem Caco Antibes do programa Sai de Baixo)
– Cuidado! Essa pergunta pode dar problemas para você. Você pode ser processada por racismo!
Uma moradora, ao abrir a porta para a recenseadora, que é preta, comentou: – Agradeça à síndica deixar você andar aqui dentro. Lá no Condomínio XX, duvido você passar da portaria!
Em outro setor censitário, a moradora perguntou se o IBGE não poderia enviar um recenseador mais claro para entrevistá-la.
A conjuntura atual do Brasil permitiu e incentivou que todo o tipo de preconceitos, que estavam enrustidos, aflorassem com toda a indignidade que acompanha esse tipo de comportamento.
É lamentável.