Quando nos mudamos para São José, em janeiro de 2019, a nossa rua era uma anônima, nem o corretor de imóveis sabia a denominação do logradouro (essa palavra agora faz parte do meu vocabulário e do dia a dia). Ao solicitar a ligação de água, a rua já constava no cadastro da empresa e aí fiquei sabendo que se chamava Deputado Agostinho Mignoni, mas sabe o que isso significou? Absolutamente nada!
Para a empresa de energia eu morava na quadra X, Lote Y, Loteamento W, bairro de Potecas. Para o Google, nem isso. Atalhando a história, as entregas das mercadorias que adquirimos eram uma novela. Era preciso colocar um vigia para orientar os entregadores ou sinalizar para algum motorista de caminhão com cara de perdido.
A falta da indicação da rua sempre me incomodou – talvez por causa da minha origem postal – e fui atrás de um vereador para cuidar do assunto. Pesquisei no site da Câmara qual dos edis tinha projetos ou indicações para o bairro e cheguei ao vereador Abel (do Salão) Veiga, que prontamente encaminhou um ofício à prefeitura solicitando a colocação de uma placa indicativa. O assessor dele enviou para mim uma cópia do documento.
Sem lograr êxito e vendo todas as ruas do loteamento receberem placas menos a nossa, fui pessoalmente à prefeitura e fiz uma peregrinação, que já contei aqui (relembre aqui), registrando o meu pedido na Ouvidoria. Algum tempo depois, a Secretaria de Trânsito – a quem cabe a sinalização da cidade – informou que o pedido havia sido registrado, mas por falta de orçamento, atenderia em momento oportuno.
Depois, em um evento, encontramos o filho do homenageado, que é o adjunto da Fundação do Meio Ambiente de São José. Ele também estava pedindo aos colegas da prefeitura para colocarem a placa da rua com o nome do pai dele, que foi um projeto aprovado na Câmara de Vereadores em 2018.
Finalmente, na manhã de quarta-feira, 22, quando eu saía para trabalhar, vi dois funcionários em uniforme laranja na esquina da rua de cima. Não deveriam ser da prefeitura, nem de alguma construtora. Mudei de rumo e fui até eles ver o que faziam e para minha surpresa, estavam instalando a bendita placa com o nome da rua! Pedi para que eles posassem para a foto oficial que seria eternizada no Banzeiros.
Só que eles instalaram a abençoada na esquina errada. Voltei lá e disse isso a eles. Um deles, o Paulo, alegou que tinha consultado o GPS. Grandes coisa, pensei eu. E provei que estavam equivocados. Ao comprovar que eu tinha razão, comentou: É pra ser mesmo em frente à sua casa!
Não precisava ser na porta da minha casa, mas deixa lá.
Quem foi o Mignoni?
Nasceu em 1919, na cidade gaúcha de Veranópolis e depois de cursar contabilidade, mudou-se para o interior de Santa Catarina, onde ajudou a fundar o PTB (Partido Trabalhista Brasileiro) e o jornal Petêbe. Foi eleito duas vezes deputado estadual, 1959 – 1963 e 1963 – 67, convocado como suplente.
Consta na biografia dele que, morando em Joaçaba (SC), Mignoni pediu providências e investigações sérias sobre o “Caso Jaborá” (que ainda não consegui descobrir o que foi). Como resposta, foi sequestrado por policiais, espancado e deixado desacordado. Escreveram nas costas dele, com a ponta de um sabre: “A polícia é a maior”. Agostinho Mignoni publicou um livro sobre o episódio com o título Direito de Espancar Retrato de um Govêrno, 1957. Não há registro da morte dele.