Quando eu era menino, ouvi algumas vezes a seguinte praga: “quero ver a caveira dele com uma corruíra fazendo um ninho dentro!”. Eu achava de uma tremenda maldade, além de desejarem a morte do outro, ainda queriam que os restos mortais fossem desrespeitados por um passarinho, que aproveitaria a caixa craniana para construir um ninho. Nunca fui saber que pássaro terrível era aquele, a corruíra, que se prestava a ser parceiro em uma maldição.
O tempo passa, o tempo voa e quem vem fazer um ninho na casa que instalei para colocar comida para os passarinhos? Isso mesmo: um casal de corruíras, que eu conhecia como garrincha. A Troglodytes musculus também é conhecida como carruíra, cutipuruí, cambaxirra, carriça, garriça, carricinha, garricha ou rouxinol. Se alimenta de insetos, aranhas e outros bichinhos e faz o ninho com gravetos, folhas e raízes, que é forrado com penas de outras aves. Nidifica em qualquer lugarzinho, como por exemplo a “cobertura” da casinha de passarinho.
Segundo o livro Aves Catarinenses, “diz uma lenda que este pássaro sempre foi benéfico ao homem. Onde ele está, as pragas de lavouras e insetos domésticos não se proliferam. Dizem, por isso, ter obtido as graças de Nossa Senhora, segundo a fé da cultura católica”.