22 de janeiro de 2021

Defuntos extraviados

Por José Carlos Sá

Veículo da funerária que levava defunto para velório (Foto PMSC/Divulgação)

No sábado, 16, o motorista de um carro funerário estacionou na porta de uma floricultura, onde foi adquirir uma coroa de flores. Ele deixou a chave na ignição e um oportunista vendo a chance, entrou no carro e fugiu. A polícia foi avisada, mas não tinha pistas para onde o ladrão se dirigiu. Mais tarde a Polícia Militar foi atender uma ocorrência de um acidente, em que um carro havia caído em um barranco. Era o veículo funerário.

O motorista estava machucado e ao ajudá-lo a sair, os policiais viram que na parte traseira do carro funerário havia um caixão devidamente “ocupado”, que estava sendo levado para o velório. Após o atendimento médico, o ladrão foi apresentado à autoridade para as providências legais. O fato aconteceu na cidade de Laguna, a 120 quilômetros de Florianópolis.

As portas do rabecão se abriram e o defunto caiu na estrada (Ilustra Internet)

No finalzinho da década de 1980, estávamos no aeroporto de Cacoal (RO) policiais civis, policiais militares e eu, aguardando nossos respectivos chefes (os PMs e eu fazíamos parte da mesma equipe). Um dos policiais civis, que era motorista do então secretário de Segurança Pública Eurípedes Miranda, contou um causo que me deixou arrepiado.

Ele disse que ao entrar na Polícia Civil foi lotado na Delegacia de Cacoal e, no primeiro plantão, recebeu a missão de pegar o rabecão e ir buscar um defunto na vizinha cidade de Espigão do Oeste, distante 61 quilômetros. Chegando ao destino, não contava com a burocracia para a transferência do extinto, o que atrasou o retorno.

O dia já estava escuro quando pegou a RO-387, que liga Espigão à BR-364. A rodovia estadual nesta época ainda não estava asfaltada. O nosso amigo pisou fundo no acelerador, para se desincumbir da missão e voltar para o restante do plantão. Após 21 quilômetros, chegou à rodovia federal, mas ao olhar pelo retrovisor, viu que a porta traseira do caminhão estava aberta. Ele pediu a Deus que não fosse aquilo que ele pensava. Era.

O gavetão e o cadáver não estavam na carroceria do rabecão. Sem alternativa, manobrou o veículo e voltou devagar, procurando a carga sob responsabilidade dele. Após rodar muitos quilômetros, viu a gaveta de metal caída no barranco de alteamento da pista. Desceu a pequena ladeira de terra solta e arrastou a gaveta até embaixo, onde o defunto estava em decúbito dorsal*. Com muito trabalho, colocou o corpo no gavetão e começou escalar a ladeira, para alcançar o leito da rodovia. Faltando poucos metros, o finado escorregou e rodou morro abaixo.

O jeito foi deixar a gaveta perto do caminhão e descer novamente. Usando uma técnica de carregar feridos, o narrador colocou o morto sobre o ombro e subiu lentamente. A colocação do corpo dentro do caminhão foi outra luta. O policial chegou a Cacoal ao amanhecer, todo sujo e muito *uto. Tomou banho, trocou de roupa e pediu transferência de delegacia e função.

 

*Decúbito dorsal – era um termo muito usado pelos repórteres de polícia do passado, para dizer que o cadáver foi encontrado de barriga para cima.

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Cacoal Espigão do Oeste Laguna Polícia Civil Polícia Militar Rondônia Santa Catarina 

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