Quando era aluno do Curso de Formação de Cabos fiz parte do treinamento na Base Aérea do Galeão, na Ilha do Governador, no Rio de Janeiro. Nós concorríamos à escala de serviço em vários postos do quartel. O meu favorito era o que ficava na frente da Baía da Guanabara, que era limitado pelo muro, por uns hangares abandonados (que pertenciam ao antigo Aeroporto do Galeão), a casa do ministro e o Portão das Armas.
Eu trocava com os colegas o turno em que ficaria de sentinela, para estar lá entre as quatro horas da madrugada e as seis horas da manhã. Gostava de ver os pescadores saindo para trabalhar e, depois, o sol nascendo e a cidade se iluminando lentamente.
Ficava neste idílio – muitas vezes nem via a chegada do ronda (sargento que vai verificar se a sentinela estava no posto) – olhando para o mar, para a cidade que amanhecia… Mas um dia tudo acabou.
Me contaram que, quando o aeroporto funcionava na pista antiga, uma aeromoça havia se suicidado em um daqueles hangares. Foi então que passei a negociar para ir para outros postos, os piores, como um que ficava na cabeceira da pista e você ficava zonzo com o barulho dos aviões decolando ou no paiol, que seria o primeiro lugar a ser atacado no caso de invasão do quartel.
Se não conseguia trocar, eu me “costurava” na divisão do meu posto com o Portão das Armas, onde havia gente 24 horas. Uma vez o ronda disse: “Você não pode ficar parado aí, tem que caminhar pra lá e pra cá”. Respondi que tinha feito isso momento antes dele chegar. Mentira.