Dia 31 de janeiro lembrei a história da primeira greve da PM de Rondônia, que tecnicamente não foi feita pelos militares, mas pelas esposas/maridos deles.
No jornal Alto Madeira, a minha pauta era continuar no assunto dos policiais. Entramos no carro e o motorista perguntou para onde iríamos. “Vamos para a Brigada!”, falei para o Juliano, motorista. Pensei: Se a polícia entrar em greve, quem assume a segurança pública? O Exército!
Os portões do quartel da 17ª Brigada estavam fechados. Me dirigi à sentinela e pedi para falar com o general. A sentinela chamou o Cabo da Guarda, que ouviu e olhou para mim rindo:
– O senhor quer falar com o comandante? Acho que ele não vai atendê-lo.
– Por favor, me anuncie. José Carlos Sá, do Alto Madeira.
O cabo foi até o telefone e falou com alguém. Esperou alguns minutos, desligou o telefone e chamou um soldado, dizendo para me acompanhar até a sala do general. Aí foi minha vez de rir da cara dele.
Notei que todos estavam com o uniforme de campanha, inclusive os militares que não estavam de serviço (a equipe que guarnece o quartel). Perguntei ao soldado o que estava acontecendo. – Eu não sei. Nós estamos aqui há dois dias. Pensei: Já tenho minha matéria.
Fui recebido por um oficial – ajudante de ordens do comandante – pediu que eu esperasse, pois o general César Nicodemus estava em reunião.
A espera foi longa, mais de uma hora. Impaciente, me levantei e fui até a porta do gabinete do comandante, que tinha uma janelinha de vidro: lá dentro estavam o governador Piana, o chefe da Casa Civil, o chefe da Casa Militar, o comandante da PM e o comandante da Base Aérea. Pensei: Já tenho minha matéria. Quando estas autoridades saíram, ninguém respondeu ao meu “bom dia”.
Fiz a entrevista e ganhei o furo de reportagem: a confirmação da intervenção na Polícia Militar de Rondônia. Na madrugada seguinte os militares ocuparam a praça Getúlio Vargas, desmontaram o acampamento das esposas dos policiais, recolheram a barraca, o fogão e toda a tralha e as expulsaram. Quando o dia amanheceu o palácio Presidente Vargas estava cercado por trincheiras de sacos de areia e metralhadoras .50. Mais tarde, uma entrevista coletiva do general César Nicodemus anunciou a intervenção.
De Belo Horizonte, meu avô Benedito viu as cenas dos soldados entrincheirados em volta do Palácio e pediu para mãe me dar o seguinte recado: “Fala para meu filho vir embora, isso aí vai virar guerra!”. Felizmente, meu avô estava errado. Foi a minha última grande reportagem no Alto Madeira.
Em março de 1993 fui trabalhar na Federação das Indústrias de Rondônia – Fiero, mas aí já é outra história