05 de maio de 2025

Pra quê tanta ignorância?

Por José Carlos Sá

Perguntaram a ele se gostava de ler, a resposta foi um xingamento geral a todos os clérigos e leigos de todas as igrejas do mundo (Imagem gerada por IA Designer/Microsoft e editada por BN JCarlos)

Hoje assisti a uma cena em que um dos protagonistas destilou toda a sua cólera antirreligiosa contra uma senhora que o perguntou apenas se ele gostava de ler.

Antes de contar a história, é preciso descrever o cenário e as personagens. Eu estava sentado aguardando o ônibus em um abrigo no bairro Forquilhinha. Ao meu lado do banco, um lugar vago, depois uma senhora de uns 60 anos e na outra ponta um homem, da mesma idade ou um pouco mais. 

Chegou uma senhora bem idosa, com dificuldade em andar, usando uma bengala como apoio. Junto com ela, uma acompanhante puxando um carrinho que ao mesmo tempo é um display de revistas, e um carrinho de compras. Eram da “equipe de marketing” da Igreja Testemunhas de Jeová. 

A idosa recém-chegada sentou ao meu lado e foi logo se dirigindo à mulher que estava no abrigo: “A senhora gosta de ler?”, perguntou e recebeu um “não” seco e definitivo. Agradeceu e se virou para mim, fazendo a mesma pergunta. Respondi que gostava de ler e ela indagou se eu aceitaria uma revista. Também respondi positivamente.

Com muita dificuldade ela se levantou e foi até o carrinho das revistas, buscando um exemplar para mim. Trouxe uma revista “Despertai”, que ela veio folheando, explicando que havia bons artigos e trechos comentados da Bíblia. Agradeci dizendo que conhecia a revista. Eu não disse a ela, mas o meu tio-avô era Testemunha de Jeová e tinha muitas revistas Despertai e A Sentinela, que eu lia sem entender muito.

Cumprindo a sua missão apostólica, a mulher – que se chama Nanci – foi até o homem que também estava esperando ônibus na outra ponta do banco e fez a mesma abordagem: “O senhor gosta de ler?”

Ao invés de um “sim” ou de um “não”, o homem – que devia estar com algum problema emocional – respondeu quase gritando: “Eu tenho é duas bíblias em casa, mas não servem pra nada! Vou jogar as duas fora…” E continuou esbravejando. 

A mulher pediu desculpas e voltou a se sentar ao meu lado. Enquanto o homem prosseguia em um monólogo antirreligioso, excomungando padres, pastores e crentes em geral, d. Nanci me dizia que “nasceu” católica, e depois migrou por três religiões, mas que agora havia encontrado o que procurava entre os Testemunhas de Jeová. Falei que sou católico e que nunca havia trocado de religião, apesar de ter frequentado templos e terreiros, ouvindo o que ensinam e guardando o que eu posso aproveitar de bom para a minha vida.

Ela ia falar mais alguma coisa, mas o meu ônibus chegou e nele embarcou comigo o homem que ainda estava xingando geral. Eu não sei se parou de falar mal das igrejas, pois ele foi se sentar no fundo do ônibus e eu fiquei na frente, pensando como uma criatura pode ter o dia estragado e estragar o dia de outras pessoas. E o  que ele ganha? Só mais uma úlcera. 

 [Crônica LXXI/2025]

Tags

Forquilhinhas São José Testemunha de Jeová 

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