14 de abril de 2025

Vargas Llosa, o que importa é a obra

Por José Carlos Sá

Mario Vargas Llosa (1936 – 2025) deixa uma rica herança para a literatura latino americana (Foto Pierre-Philippe Marcou – AFP/Reprodução)

Hoje a imprensa internacional continua repercutindo a guerra das tarifas, declarada ao mundo pelo norte-americano Donald Trump, mas abre espaço para noticiar a morte do escritor peruano Mario Vargas Llosa (1936-2025), ocorrida no domingo (13), em Lima.

Li alguns livros de Vargas Llosa na minha fase de “devorar” a literatura latino-americana, especialmente o realismo fantástico, onde eu incluí, por minha conta, a obra “A guerra do fim do mundo”, do peruano. Gosto muito de “Pantaleão e as Visitadoras”, “Os cadernos de don Rigoberto”, “A casa verde” e “Batismo de Fogo”. 

Em Guerra do Fim do Mundo, alguns sertanejos são mostrados de forma caricatural (Cia das Letras/Reprodução)

Vargas Llosa tinha como característica misturar elementos de ficção com a realidade, traçando um retrato caricato daquilo que descrevia. Talvez tenha sido essa peculiaridade do escritor que me fez não gostar da versão dele sobre a Guerra de Canudos. Assunto sobre o qual li bastante livros e artigos a partir, claro, de “Os Sertões”, do Euclides da Cunha.

Essa minha quase aversão à obra é parcial e contraditória, pois concordo como o autor descreve a paródia religiosa criada por Antônio Conselheiro, que alterou o catolicismo e deu interpretação pessoal ao que estava escrito na Bíblia. No entanto, não gostei daquilo que os críticos literários chamam de “carnavalização” do episódio, criando personagens caricaturais que foram inseridos na história. 

Direita, volver

Llosa, no interior da Bahia, pesquisando para o livro, em agosto de 1979 (Foto Raimundo Silva – Agência O Globo/Reprodução)

Em algumas das matérias que li sobre a morte do escritor, ressaltam a mudança ideológica dele, que se posicionava à esquerda no espectro político (sempre quis escrever essa frase), denunciando os governos autoritários, mas era aliado e amigo do ditador cubano Fidel Castro. 

Quando a amizade terminou por conta das arbitrariedades castristas contra intelectuais de Cuba, Llosa passou a defender a direita e a elogiar lideranças políticas anti-democráticas. A  revista norte-americana The New Yorker definiu bem a opção política do peruano: “Vargas Llosa viveu fazendo o contrário do que se esperava dele e, por isso, em tempos em que os escritores não importam mais, estamos sempre falando dele”.

Só resta desejar que descanse em paz e agradecer pela obra literária que nos deixou.

[Crônica LIX/2025]

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Bíblia Cuba Euclides da Cunha Fidel Castro Guerra de Canudos Mário vargas Llosa Os Sertões Peru 

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