13 de abril de 2025

O$ eleito$

Por José Carlos Sá

Culto comandado pela popstora Baby Consuelo (Foto Karime Xavier/Folhapress/Reprodução)

Há alguns dias a cantora exotérica e popstora [pastora pop] Baby do Brasil foi notícia por alugar uma boate em São Paulo, a D-Edge, para um culto e nele defender a ideia de que as pessoas que foram abusadas sexualmente devem perdoar seus agressores. 

Esse conselho de perdão ofuscou a questão do lugar onde foi feita a “balada gospel”, um ambiente que seria classificado, até recentemente, como um lugar de pecado. Na época eu vi a chamada da notícia, como nunca achei graça nenhuma na Baby, nem quando ela era Consuelo e dos Novos Baianos, e por não concordar com a sugestão dela, não li a matéria.

No jornal da CBN, edições de sábado e domingo, houve destaque para uma matéria mostrando a nova tendência de templos que usam estratégias de comunicação & marketing para atrair jovens, influenciadores e pessoas de alto poder aquisitivo.

Igreja em tarde/noite de balada gospel “Casa Sunset” (Foto Instagram/Reprodução)

A reportagem citou como exemplo a Igreja Casa, de Goiânia (GO), que usa artifícios como luzes de néon, paredes escuras, espaços instagramáveis, dancinha tik-tok, área vip, drinks sem álcool, buffet com comidas diferenciadas, estacionamento exclusivo com valet e camarins para descanso, entre outras novidades. Mas estas gentilezas oferecidas pelas “churches” não são para todos os fiéis. Só para quem have money.

Na reportagem, Flávio Henrique Martins, um dos pastores da igreja Casa, justifica a iniciativa dizendo que “os princípios não mudam [os Evangelhos], mas o movimento muda, a forma como você vai se comunicar para alcançar essa geração, tem que ser feita de forma criativa”.

A opinião do pastor é referendada – em parte – pelo professor Gidalti Guedes, coordenador dos cursos de Teologia e Filosofia da Universidade Católica de Brasília. Ele diz que a igreja deve se reinventar na forma e não na essência, acrescentando que é preciso ter cuidado com a segregação dos fiéis, citando como exemplo a existência nessas “churches” de áreas vips que custam caro a quem for utilizá-las.

Sei que a Igreja Católica também fez acenos aos jovens com o Movimento Carismático, mas não tenho notícias de que havia “apartheid” entre os fiéis com e sem dinheiro. 

Comprando um lugar no céu

Na busca por uma vaga no céu vale tudo. Até comprar indulgências (Ilustra Comunhão.Com.Br/Reprodução)

Não posso me esquecer da Reforma Protestante que aconteceu na Igreja em meados do século 18, em protesto – entre outras coisas – à venda de indulgências, ao poder divino dos reis, os empréstimos a juros pela Igreja Católica e o acúmulo de bens e terras, além da infabialidade do papa. 

Na questão das indulgências, quem pecou a vida toda e ao sentir que estava com um pé na cova, procurava um padre ou bispo e fazia uma doação generosa à igreja, garantindo um lugar no céu (dependendo da quantia, poderia se sentar à mesa à direita de Deus Pai). Também encomendava centenas de missas em sufrágio de sua alma, caso tivesse que fazer um estágio no purgatório.

Não sei, sinceramente, se esse comércio dava resultado. No Evangelho, em uma de suas parábolas, segundo Mateus (19:24) Jesus teria dito “É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino dos Céus”.

Tudo tem um limite.

[Crônica LVIII/2025]