á 61 anos, tropas do Exército marcharam de Juiz de Fora (MG) rumo ao Rio de Janeiro, deflagrando o golpe de 1964. Esse assunto sempre me interessou, mas não tinha novidades para justificar escrever sobre ela – até que o programa “Autores e Livros”, da Rádio Senado, me apresentou duas obras sobre a redemocratização: “O girassol que nos tinge”, de Oscar Pilagallo, e “Explode um novo Brasil”, de Ricardo Kotscho.
Foi um detalhe do apresentador Anderson Mendanha que me fisgou: em 1984, seu pai o proibiu de ir ao comício das “Diretas Já” em Porto Velho, alegando que haveria “baderna”. Essa história me levou direto ao livro de Kotscho – e à minha própria memória, já que participei modestamente daquele movimento.
Kotscho narra como a emenda do deputado Dante de Oliveira (PMDB-MT) virou a centelha das “Diretas”. Ulysses Guimarães e a oposição, fortalecidos pelas eleições de 1982 (que elegeram governadores em MG, RJ, SP e GO), viram nela a chance de acelerar o fim da ditadura. Paralelamente, o autor – então repórter da Folha de S.Paulo – convenceu seu jornal a cobrir a campanha como um projeto. O plano deu certo: ele se tornou não só cronista, mas parte da engrenagem do movimento.

Lideranças políticas do movimento “Diretas Já”. A partir da esquersa: Marcos Freire, Miguel Arraes, Tancredo Neves, Lula, Ulysses Guimarães e Lucy Montoro. São Paulo, 1984 (Foto Antônio Carlos Piccino/Reprodução)
A caravana de políticos e artistas (de Chico Buarque a Fernando Henrique Cardoso) percorreu o Brasil, levando multidões às ruas. Lendo, fiquei ansioso para saber como foi em Porto Velho – mas a narrativa “pula” de Rio Branco (AC) para Cuiabá (MT), ignorando Rondônia.

Comício em Porto Velho, Novembro de 1984. A partir da esquerda, o então deputado Chiquilito Erse, governador Franco Montoro (SP), Tancredo Neves, delegado João Lucena Leal e José Sarney (Reprodução Gente de Opinião)
Curioso, consultei dois amigos repórteres da época: Lúcio Albuquerque e Montezuma Cruz. Descobri que o evento vetado ao Anderson Mendanha ocorreu em 11 de novembro de 1984 – após a derrota da emenda Dante de Oliveira (25/4/1984). Tancredo Neves e Ulysses Guimarães estavam lá, mas não pelas “Diretas”: era agora o início da campanha das “Indiretas” (pelo Colégio Eleitoral). A confusão era compreensível: as caras eram as mesmas, mas o propósito, outro.
Como as caras eram as mesmas, mas com outro propósito, houve a confusão e o comício que imaginavam ‘Diretas já”, na verdade era “Indiretas ainda”.
[Resenha IX/2025]