
Antigamente tínhamos que correr atrás do caminhão de coleta para recuperar as lixeiras da nossa casa (Imagem gerada por IA Canva e Remove.Bg/BN JCarlos)
Ontem passou a coleta de resíduos (antigamente chamávamos de “caminhão do lixo”) no nosso bairro. Não sei se por um problema pessoal, de mira ou de desídia, os funcionários deixaram cair na rua alguns sacos de lixo e não os recolheram. Por sorte não havia restos de alimentos dentro das sacolas e os cachorros em situação de rua as deixaram inteiras. A Marcela recolheu e guardou para a próxima coleta.
A situação me fez lembrar sobre a “evolução” da coleta do lixo domiciliar. Pela literatura, tenho conhecimento que o serviço de coleta já foi feito por carroças de tração animal, mas a minha lembrança mais antiga é do “lixeiro” usando um caminhão comum, de carroceria de madeira, passando pelas ruas. Eram três funcionários: o motorista e mais dois coletores, ficando um em cima da carroceria e o outro no chão.
Muita gente queimava o lixo e/ou fazia compostagem no quintal – quase todas as casas, naquela época, tinham quintais; aqueles que usavam o serviço de coleta das prefeituras acondicionavam o lixo em latas de 20 litros, onde antes eram vendidos querosene (muito usado nas lamparinas), manteiga ou óleo de soja. Encontrei uma foto de latas iguais às que utilizávamos, para facilitar o entendimento.
Vale dizer que quando a lata era colocada para ser depósito de lixo, ela já havia passado por vários reusos, após ter sido esvaziada de seu conteúdo original.
Depois de bem lavada, era destinada a guardar alimentos secos, como arroz, feijão e milho. Ou a famosa “carne de lata”, com carne cozida conservada na banha de porco. Depois servia para buscar água nas bicas, cacimbas ou cisternas (a distribuição de água encanada era precária).
Resgatando nossa lata
Cumprida essa trajetória de reciclagem, aí o destino do vasilhame podia ser para depósito de restos de comidas para dar aos porcos ou servir como recipiente para o lixo doméstico, onde tudo ficava misturado.
No dia da coleta, a lata de lixo (literalmente) era colocada na frente da casa e um menino ficava responsável por seu resgate. Não. Não estou falando de sequestro, mas de outra coisa, que vocês vão entender logo.
Enquanto o caminhão seguia vagarosamente pela rua, o homem que estava no chão recolhia as latas das calçadas e as arremessava para o colega que estava na carroceria; este esvaziava as latas e as devolvia, embora nem sempre diretamente ao colega, o que frequentemente fazia com que elas caíssem no meio da via.
É a isso que chamo de resgate. Tínhamos que correr atrás do caminhão e recolher a “nossa” lata, levando ela de volta para casa.
Não precisa dizer que a vida útil desse reservatório era curta. Quando estava toda amassada e furada ainda podia cumprir sua última missão na terra, antes de morrer de ferrugem, servindo de “vaso” para uma planta ordinária qualquer.
[Crônica XLVIII/2025]