14 de março de 2025

Mordendo a cobra e mostrando os dentes

Por José Carlos Sá

A vítima na mão da vítima (Fotograma de vídeo feito pela vigilante/JCarlos)

Desde 1947, quando o curso de Jornalismo foi criado, os alunos ouvem, invariavelmente, na primeira aula que “o cachorro morder um homem não é notícia, mas um homem morder um cachorro é!” Esse é um dogma da profissão, que com o tempo foi perdendo força. Hoje noticiam qualquer bobagem e ainda dão a informação incompleta. Mas isso não importa agora.

Voltei no tempo e lembrei a primeira lição ao ler esta manchete do G1: “Mulher morde serpente em ‘momento de desespero’ após ser picada em SC”. Várias motivações me levaram a ler o texto. Curiosidade jornalística, medo de cobras e por ter passado três dias na cidade onde aconteceu o fato, em evento que fica perto de uma área de mata.

A história é da vigilante de uma creche, que ao chegar para trabalhar, viu uma cobra coral que rastejava em direção à escola. Temendo que o réptil atacasse as crianças, quis espantá-la jogando pedrinhas de brita e com a bicicleta, mas a serpente não tomou conhecimento e seguiu sua jornada.

Desesperada a mulher, que calçava sandálias, do tipo havaianas, resolveu atalhar a passagem da víbora, pisando em seu corpo. A reação do ofídio foi natural: picou o dedão da atacante, que ato-reflexo, agachou, pegou a peçonhenta com as mãos e a mordeu até que estivesse morta.

Com o veneno já circulando no sistema sanguíneo, a vigilante ainda teve forças para pedalar até o posto de saúde, onde chegou apresentando os sintomas da peçonha no organismo. A reportagem conta que “a saturação dela baixou e o maxilar ficou rígido. Ela precisou ser entubada, mas a rigidez deixou a manobra mais difícil. Foi necessário chamar o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) e encaminhá-la ao hospital”, onde foi medicada e recebeu alta.

Um biólogo ouvido pela repórter disse que o procedimento correto é chamar os bombeiros ou um órgão ambiental e que matar animais silvestres é crime ambiental inafiançável. Ele também aconselhou as pessoas a evitar morder as cobras, pois elas (cobras) podem picar a boca de quem a morde e o contaminar com bactérias. 

E se o assassinato for a mordidas, pode dar até prisão perpétua, eu acrescento por minha responsabilidade. Outra coisa, que também não é da minha conta. Como uma pessoa que é vigilante trabalha usando chinelo? Não tem EPI?

[Crônica XXXVI/2025]

Tags

Cobra coral Curso de Jornalismo G1 Jaraguá do Sul 

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