Na minha viagem de ônibus mais recente houve um momento de tensão para uns e hilário para outros (no caso, eu).
Ao chegarmos em uma cidade onde haveria embarque de passageiros, um homem quis ir ao terminal e perguntou às pessoas próximas a ele se podia desembarcar.
Uma mulher na poltrona do lado respondeu que sim. “O motorista não disse nada, então pode!”
Terminado o embarque, o motorista fechou a porta e ligou o motor sem que o cara que havia descido tivesse retornado. O desespero tomou conta da mulher que “autorizou” o desembarque.
Ela, agitada, quase gritava: “Ele não voltou! Avisa o motorista! Manda parar o ônibus! Meu Deus, eu que falei pra ele descer! Bate na porta do motorista! Meu Deus!”
Enquanto isso, o veículo saía da rodoviária para continuar a viagem. O passageiro que foi avisar ao motorista voltou triste. “Não dá pra falar com ele. O motorista fica separado”.
E o ônibus completou a volta em torno do terminal e parou no sinal vermelho. No pátio da rodoviária apareceu o passageiro “esquecido”, andando bem tranquilo com uma garrafinha de coca na mão. A mulher começou a gesticular em direção a ele, gritando “corre”, como se lá de fora o cara a visse ou ouvisse.
Tudo terminou bem. O motorista esperou o extraviado e deu uma bronca geral. Só podia desembarcar nas paradas, quando ele autorizasse.
Ouvi alguém rindo e falando, se referindo ao quase abandonado: “Esse aí não vai descer nem quando chegar na garagem”.
Depois eu perguntei ao motorista qual o procedimento naqueles casos. A resposta é que eles ligavam para a central e o próximo ônibus da empresa recolheria o passageiro distraído.
“E se não tiver mais nenhum ônibus da empresa naquele dia?” Eu quis saber.
“O passageiro tem que se virar” respondeu rindo.
Do baú
Há muito tempo eu fiquei para trás numa parada para almoço no interior da Bahia. Terminei de comer e me distraí conversando com outro passageiro que dividia a mesa comigo.
Quando demos fé, o ônibus já tinha saído do estacionamento e estava esperando a oportunidade de pegar a pista da rodovia. Nunca corri tanto em minha vida.
[CrônicaXXVIII/2025]