A Marcela me lembra que tenho medo de muita coisa. É verdade. Especialmente de altura. Não topo chegar perto de precipício ou de janelas panorâmicas em prédios altos, para fazer selfie mostrando a imensidão do “nada” lá atrás. Muito menos sou afeito a subir em escadas, dessas de construção. Precisando subo, mas com as pernas trêmulas. É o instinto de sobrevivência.
No período em que trabalhei em Brasília e precisava ir ao Palácio do Planalto, usava sempre os elevadores (também tenho medo do elevador cair, não de ficar preso neles, pois já passei por isso e fiquei calmo). As rampas projetadas por Oscar Niemeyer me dão vertigem, até em vê-las na televisão.
Há alguns dias li uma matéria sobre um homem que morreu ao cair da escada de um avião. Depois ficamos sabendo que ele teve um AVC ao desembarcar, mas a primeira impressão – aquela que fica – é de que a morte tinha sido em decorrência dos ferimentos na queda.
Até saber a verdade, por minha cabeça passavam as cenas das centenas de vezes que embarquei ou desembarquei de aviões usando escadas que pareciam ter sido feitas de bambu, de tanto que tremiam. Posso até usar como comparação uma frase gauchesca, sempre repetida por meu amigo Beto Bertagna, que dizia “firme igual a palanque em banhado”.
O balançado das escadas de embarque são interpretados por mim como um mau presságio. Entro no avião e, depois de acomodado e cinto afivelado, entrego minha alma a Deus. Ao desembarcar, só agradeço ao Poder Superior pela viagem, após vencer o obstáculo das escadas bambas e estar bem longe do aeroporto.

Como me sinto na escada para embarcar (Foto Adrian Paci – “Centro de Detenção Temporária – 2007” Reprodução)
Mas você aí deve estar dizendo. O Zé ainda está no passado, hoje existem os “fingers”, que levam os passageiros da sala de embarque aos aviões, e vice-versa, sem intermediários. E eu respondo. Não é bem assim. Ainda existe o tal do embarque remoto, em que você vai de ônibus até uma pista e lá sobe no avião ao balançar da escada.
Assumo meus medos e não faço questão de escondê-los e assim vou vivendo.
[Crônica XXIV/2025]