Não sei quando eu passei a prestar atenção aos manequins de loja. Talvez na minha meninice em Belo Horizonte, onde existia um concurso de vitrines promovido pela prefeitura e pela associação de lojistas.
E até hoje coloco reparo nos “bonecos de loja”, olhando para além de um simples mostruário de roupas (isso é profundo!). Alguns manequins me atraem pela bizarrice e outros pela “personalidade”
Este texto foi especialmente inspirado em alguns manequins que estão no meu caminho diário, o que faz com que os veja todos os dias. São tão conhecidos que quase os cumprimento. Vou apresentá-los.
Huka
O “manequim verde” foi o primeiro a ser notado. Ele ficava à margem da rua João José Martins, uma das principais vias de acesso para onde moramos, e servia para anunciar um brechó localizado em uma rua secundária. Esse boneco, quando mudamos para cá, usava um biquíni, que era trocado de vez em quando.
Curioso sobre a vida pregressa do manequim verde e depois de muito tempo ensaiando, finalmente fui ao brechó e na maior cara de pau perguntei se aquele manequim tinha história. Sorrindo, o filho da proprietária disse que a manequim se chama “Huka”.
– Hein? Não entendi o nome, é Luca?, questionei.
– Não. É Huka, feminino do Hulk, o cara lá, verde…
– Ah!, entendi o nome e o motivo.
O manequim chegou para a dona do brechó como doação e, por ser feito de material resistente às intempéries, resolveram usar como “chamariz” para a loja de roupas usadas. “Como ela [Huka] só usava biquínis, as pessoas pensavam que a mãe vendia roupas de praia. Quando chovia, chegamos a colocar uma capa no boneco…”
Com as obras de abertura de uma nova via de acesso para o nosso bairro, a manequim teve que ser retirada do lugar onde ela ficava e, segundo o meu “entrevistado”, houve protesto de alguns fregueses, que queriam o retorno do boneco verde para o lugar original. “Ela agora está ali [na frente da loja, à margem da nova avenida] provisoriamente. Vamos fazer um pedestal para ela, para continuar atraindo fregueses para cá”, garantiu o guardião da Huka.
Paloma e Paola
Há mais dois grupos de manequins para os quais eu também olho e quase cumprimento. Em um deles, dois manequins estão em um misto de salão de beleza e loja de roupas. O diferencial dos bonecos é que – além das roupas que oferecem – os manequins não tem desenho de olhos, nariz e boca. Só um aplique de grandes pestanas. Foram esses cílios enormes que chamaram minha atenção.
A poucos metros dali, uma loja maior tem um conjunto de seis manequins, mas as duas bonecas da direita de quem olha da rua, é que me atraem. As duas, sempre usando perucas de cabelos pretos mal colocadas, têm uma pose, ao meu ver, de desafio, de quem chama para a briga, do tipo “vai encarar?” É a minha percepção.
A proprietária do estabelecimento não concordou com a minha opinião. Para ela, a pose das manequins não é desafio, mas de atitude. – Atitude? Pergunto. “Sim. Para vender roupas”. As duas manequins são chamadas pelo pessoal da loja de Paloma e Paola.
Fiz uma ligeira pesquisa para saber como surgiram os manequins e a história nos remete à Idade Média, quando os bonecos foram criados para auxiliar costureiras e alfaiates a darem os acabamentos nas roupas que confeccionavam.
Ao longo dos anos os manequins vêm sendo usados para variadas utilidades, como em trabalhos artísticos, nos aprendizados ligados à saúde, para fins militares e de espionagem e, até, para vender roupas!
Nas fotos, os manequins citados e mais alguns achados interessantes.
[Crônica XXIII/2025]