Tenho muitas aventuras ligadas à aviação no período em que morei em Rondônia, seja quando trabalhava para o Governo do Estado, para a Federação das Indústrias, Câmara dos Deputados ou na Hidrelétrica Santo Antônio. Esse causo aqui é altamente internacional.
O ano deveria ser 1997 e eu fazia parte de uma delegação mista enviada pela Fiero (Federação das Indústrias do Estado de Rondônia) a Cusco e a Lima, no Peru, colher subsídios para compor um documento de propostas de como criar um mercado comercial e turístico bilateral. Éramos dois técnicos da Federação, um enviado do Governo Estadual e um representante do setor comercial de alimentos.
Embarcamos para Rio Branco (AC), onde tomaríamos um avião da empresa peruana América, que havia iniciado a rota Lima – Cusco – Rio Branco recentemente. O voo não aconteceu naquele dia por causa de problemas meteorológicos na região de Cusco. A situação se repetiu nos dias subsequentes.
Quando finalmente a aeronave chegou ao Brasil, depois de longa espera de desembaraços burocráticos, embarcamos e fui logo notando que era um avião antigo e que já havia “rodado” muito pela Varig, pois havia adesivos nos encostos das poltronas e paredes internas.
A primeira escala foi em Puerto Maldonado, já em território peruano, e os passageiros embarcados em Rio Branco tiveram que desembarcar, passar pelo setor de migração do aeroporto e retornar ao avião.
Enquanto fomos “carimbar o passaporte”, os passageiros que estavam em Maldonado – a grande maioria de turistas norte-americanos retornando para casa – embarcaram e lotaram o avião. Quando fomos liberados, só encontramos poltronas disponíveis no fundo do avião. Os quatro “missionários” ficaram, literalmente, nos últimos lugares, onde não é possível reclinar o encosto das poltronas.
O avião taxiou e na cabeceira da pista acelerou, se preparando para a decolagem. Com a vibração e trepidação provocada pelos motores “a todo vapor”, os compartimentos de bagagens começaram a se abrir e as tralhas caíram sobre os passageiros.
Perto de nós, no fundão, onde chacoalhava mais, uma idosa tentava desesperada e inútilmente chamar a atenção das comissárias, gritando: “Help me,please! Come here, please!”
Só depois que os sinais de “apertar cintos” foi apagado é que as comissárias apareceram para ajudar os passageiros a se desenvencilhar de caniços, mochilas, chapéus, bolsas e outras tralhas que caíram sobre eles.
Na decolagem em Cusco, o susto foi outro. Parecia que o avião não conseguiria ganhar altitude para ultrapassar as montanhas que formam os Andes. Mas aí é outra história.
[Crônica XXII/2025]