25 de janeiro de 2025

Alguém nos espia

Por José Carlos Sá

Alguém nos vigiava, não imagino quem era (̧Ilustração sugerida pela IA Designer/Microsoft para o texto e foi “aperfeiçoada” por mim)

Uma semana depois que nos instalamos no novo endereço é que vi a pequena câmera no teto do fundo da sala, onde uma viga fazia sombra. 

Era uma dessas câmeras comuns, uma pequena caixa metálica branca com uma lente e um led vermelho que indica o funcionamento. Procurei a instalação do aparelho, mas não consegui ver nenhum fio saindo dele, nem antenas. Deixei para lá.

Uma tarde, no escritório, senti a sensação que estava sendo observado. Me virei rapidamente, mas não havia ninguém além de mim no recinto. Eu estava sozinho. Instintivamente olhei para a câmera na certeza que era de lá que me vigiam. O led, no entanto, estava apagado. Atribuí o pressentimento ao cansaço.

No dia seguinte a coisa se repetiu. Dessa vez ao me virar, acreditei ter visto a luzinha vermelha se apagando. Não comentei nada, mas pouco tempo depois, conversando amenidades com os colegas, todos relataram sentir que eram observados, sendo que não viam ninguém.

Sem alarmar os companheiros, fui até a proprietária do imóvel saber quem recebia as imagens que pudessem estar sendo geradas por aquela câmera misteriosa. A locatária disse desconhecer, pois éramos os primeiros inquilinos desde que ela comprou o prédio de um espólio. Pedi o endereço do administrador da herança e fui lá.

O advogado ficou espantado com o fato. Disse que não tinha conhecimento de nenhum sistema de vigilância, pois representava a família há muito anos e nunca ouviu qualquer referência ao assunto. De todo modo, ia consultar a cliente dele e me telefonaria em seguida.

A resposta é que ninguém, em época alguma, havia contratado qualquer sistema de vigilância, especialmente naquele imóvel, onde eu me instalara, que apesar de ter sido construído há muitos anos, nunca foi utilizado antes.

Pensei, e agora? Tomei uma decisão: se a câmera não é de ninguém, vou mandar retirá-la. Comuniquei à proprietária, que concordou e chamei um prestador de serviços para desinstalar o bendito equipamento. O homem subiu na escada e começou a procurar onde o aparelho estava fixado. Não havia parafusos visíveis e ele perguntou se podia enfiar uma faca entre o aparelho e o teto. Falei para fazer o que fosse necessário, sem se preocupar.

Meia hora depois, escorrendo suor, o cara ainda estava tentando retirar a câmera do teto, sem sucesso. A faca não deu resultado; usou uma chave de fenda como talhadeira e nada. Bateu o martelo diretamente na caixa e só conseguiu o som de metal batendo em metal. A coisa nem se moveu. Pior, a tinta nem ficou arranhada e nem a caixa se amassou. Sem conseguir cumprir o que havia sido contratado, ele foi embora e não aceitou que eu lhe pagasse as horas trabalhadas.

Todos haviam parado de trabalhar e olhavam para mim esperando uma explicação. A única coisa que consegui falar foi: 

– Arrumem suas coisas, vamos mudar daqui amanhã. 

[Conto I/2025]

Tags

Assombrado Espólio ET Herança Vigilância 

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