
Para Odilon realizar seu projeto só faltava um detalhe (Imagem gerada por IA Designer/Microsoft / Edição Artguru / JCarlos)
Odilon estava desempregado há dois anos, mas como ainda vivia na casa dos pais e recebia ajuda do bolsa-família, não estava desesperado. Apenas se sentia desconfortável com os olhares oblíquos do pai e os interrogativos da mãe. Odilon lia neles a pergunta “Cuméquié? Vai arranjar trabalho ou não vai?”
Depois de muito pensar e pesquisar, acreditou ter achado a solução para seus problemas. Ele viu uma matéria na internet sobre um vereador que morreu atropelado quando pagava uma promessa. A reportagem mostrava ainda que penitentes viajam muitos quilômetros, às vezes a pé, para agradecer uma graça alcançada ao santo de devoção. Outros participam de procissões de joelhos ou carregando objetos – ex-votos – que serão deixados nos locais de romaria como agradecimento.
Depois de muito pensar, Odilon decidiu se especializar em pagar promessas alheias. Conhecia amigos e parentes dos pais dele que fizeram promessas para os filhos pagarem, gente que dava um voto de confiança ao santo e cumpria a promessa antes de ver atendido o seu pedido.
Antes de colocar o anúncio na OLX oferecendo seus serviços como um “pagador de promessas de aluguel”, ele pesquisou se havia algum impedimento canônico ou se conflitava com as regras eclesiásticas e os dogmas da Igreja.
Encontrou apenas uma sugestão – não uma determinação – de que a pessoa que faz a promessa é quem precisa cumpri-la, não deve prometer o que não pode pagar e nem transferir para que outra pessoa pague a obrigação contratada. Também sugere-se que se a promessa não pode ser cumprida, o penitente deve procurar um padre e, em confissão, pedir autorização para alterar a promessa por uma exequível.
Vendo que essas sugestões não impediriam o futuro negócio, Odilon deu mais um passo e confidenciou a um amigo dele marqueteiro (na verdade era quem “bolava” os anúncios da loja do tio) a ideia, para saber a opinião de alguém que entendia de negócios.
O amigo gostou tanto da ideia e sugeriu que a empresa tivesse um nome atraente, pois “Pagador de promessas de aluguel” não tinha approach.
Odilon agora está feliz. Vai ter um negócio só seu, sem concorrência (filhos pagarem promessas feitas pelos pais não conta). Só ainda não colocou em prática por não ter conseguido um nome adequado, como o amigo sugeriu e já está pensando até em fazer uma promessa para São Bernardino de Sena, padroeiro dos publicitários, para inspirá-lo!
[Crônica XVI/2025]