
O Saci / Matintaperê e a alma penada que eu imaginei e a IA tentou desenhar (Foto Paulo Selke / Ilustra IA Designer/Microsoft)
Tenho o costume de compartilhar imagens de pássaros, a maioria fotografada em Santa Catarina, com os meus familiares no grupo de whatsapp. Eu pego estas fotos em outro grupo de que faço parte, o ObservaSC, que é formado por pessoas que praticam a observação e a fotografia de pássaros na natureza.
Quando recebi a foto que ilustra essa crônica, não havia identificação com o nome do pássaro. Ao “jogar no Google Lens”, a ave foi identificada como “Saci” (Tapera naevia), acompanhada dos nomes regionais, entre eles, “matinta-pereira (do tupi matintape’re), matintaperera e matintaperê”.
O portal Wikiaves, responsável pelas informações, ensina que o pássaro Saci/Matintapererê é “uma espécie rara, noctívaga, e o seu canto estridente anuncia desgraça”. E para quem gosta de assombração, como eu gosto (#sqn), na Amazônia acreditam que a ave é a reencarnação de uma alma penada, e pode se metamorfosear em uma velha que aparece nas noites de lua cheia, pedindo tabaco para quem encontra.
O ‘felizardo’ que topa com a assombração deve dizer: “Vem buscar tabaco amanhã” e seguir em frente. Mas não ficará livre da visagem. No dia seguinte chegará na casa dele uma mulher bem idosa, com a roupa aos frangalhos (esmulambada, eu diria) procurando o prometido fumo para seu cachimbo.
A lenda é incompleta ao não informar o que acontece ao ser vivente se não cumprir a promessa de entregar o fumo à velha. Acredito que a consequência não seja nada agradável.
Alguma alma, mesmo que penada
Quando criança ouvi muito causo de “alma penada”, mas nunca soube, realmente o que é uma. Para escrever essa crônica dei uma olhada em alguns sites. Parece que um copiou do outro e definem assim a dita cuja: “No folclore português alma penada é uma pessoa que morreu e deixou assuntos inacabados na terra, por isso retorna como espírito para pedir ajuda na forma de orações dos vivos.”
Encontrei uma versão um pouco diferente dizendo que ao invés de pedir orações, elas (as almas penadas) assustam as pessoas com quem tinha alguma rixa quando em vida.
Na minha imaginação infantil, a alma penada tinha a aparência daqueles fantasmas feitos de lençol, com dois buracos para os olhos (para quê?), coberto de penas de galinha, mas aquelas penas retiradas das galinhas que são mortas para o almoço e são escaldadas em água fervendo e as ditas penas ficam desmilinguidas, murchas, sem viço.
De qualquer modo, não quero encontrar nenhuma das versões da alma penada, nem no formato do passarinho matitaperê!
[Crônica XIII/2025]