17 de janeiro de 2025

Engasgado com uma asinha da barata

Por José Carlos Sá

Família se alimentando de larvas do besouro-de-farinha [Tenebrio Molitor] e achando bom (Montagem JCarlos sobre imagem gerada por AI Designer/Microsoft)

Quando eu era menino, uma das muitas coisas que não fiz foi comer bunda de tanajura na época em que elas surgem. Eu via meus colegas de vizinhança correndo atrás das formigas voadoras, juntando as capturadas em uma lata e levando para casa para fazerem a fritada com as bundas dos insetos, mas essa atividade não me apetecia e nem me apetece.

Na crônica de ontem (16/01), comentei sobre as comidas que passam de proibidas a indicadas e novamente a proscritas em questão de dias, dependendo do pesquisador que aponta perigos ou vantagens, além da questão econômica envolvida. 

Pois bem, hoje ouvi na CBN Brasil o médico e nutrólogo Eduardo Rauen defendendo o consumo da proteína contida em insetos como a “solução promissora e sustentável para suprir a crescente demanda por proteína em todo o mundo”.

Ele enumerou algumas vantagens nessa mudança de hábito alimentar que, resumidamente, são: rico em nutrientes (proteínas que contêm aminoácidos essenciais para o organismo humano, vitamina B12, e minerais como ferro e zinco); redução da emissão de gases de efeito estufa (provocada pelo ‘pum’ dos bovinos); redução do uso de água e energia no criame dos insetos; uso de menor espaço, em comparação à pecuária (não precisa cortar nenhuma árvore); alto valor nutricional (“Uma larvinha vale por um bifinho?” Pergunto).

Também comentou que há profundos entraves culturais para que a prática do aproveitamento da proteína de insetos ganhe a boca do povo, literalmente. Disse Rauen: “Há uma barreira cultural muito grande. As pessoas têm um certo nojo, uma repulsa com a proteína sabendo que é de inseto. Mas isso é cultural, no Oriente isso é mais comum e na Oceania também é usado como fonte proteica”.

O que chamou minha atenção nessa conversa toda e que motivou o título dessa crônica foi quando o nutrólogo, destacando as vantagens da opção insetívora como fonte de proteínas, explicou que, diferentemente do boi que leva até três anos para ficar pronto para o abate, o ciclo do inseto é de 9, 10 dias, “que é quando a larva começa a crescer, a formar as asas, aí já é abatida”.

Eu pensei: “O abate é feito pois as asas podem provocar engasgo em quem consome a tal da proteína de inseto”. Mas, na verdade, ele se referia  ao gasto protéico que o organismo do inseto teria para a formação completa das asas, auto consumindo, o que podia ser vendido. 

Como essa é uma alternativa para o futuro da humanidade, prefiro não estar vivo para participar de nenhum banquete com insetos, sejam proteicos ou não. 

[Crônica XII/2025]

Tags

Besouro de farinha Eduardo Rauen Jornal da CBN Proteína de insetos Tanajura Telebrio molitor 

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