15 de janeiro de 2025

V de vingança e veneno

Por José Carlos Sá

O envenenamento de parentes está entre as principais notícias da Editoria de Polícia, nesse início de ano no Brasil (Imagem gerada por IA Designer/Microsoft)

Em um espaço de poucos dias, o noticiário policial foi inundado por uma série de matérias sobre mortes ou intoxicação por envenenamento e acidentes aéreos. Foi tanta repercussão, que parecia que no Brasil não se morre mais de “susto, de bala ou vício”, como vaticinava Caetano Veloso.

No Piauí, uma mulher foi acusada de envenenar duas crianças com cajus. Ela ficou presa por cinco meses, mas foi solta depois que a perícia constatou que os pseudofrutos (“caju não é fruta!”) não continham veneno. Enquanto isso, a polícia – brilhantemente – ligou a morte das crianças a outro envenenamento que aconteceu, na mesma família, dia 1º de janeiro deste ano. 

Nesse novo caso já morreram três pessoas das nove que comeram uma ceia da passagem de ano requentada e temperada (sem que soubessem) com mata-rato.

O outro assunto, neste mesmo tema, que vem se desdobrando, é o da mulher que envenenou geral no Rio Grande do Sul. Ela é suspeita de ter misturado arsênico com a farinha de trigo que a sogra usou para fazer um bolo. Nesse episódio, morreram três pessoas que comeram fatias do bolo e outras duas foram internadas com gravidade.

A polícia, ligando pontinhos, já desconfia que a mesma mulher pode ter envenenado o sogro, morto em 2024, com um quadro de infecção intestinal e também estaria implicada na morte do pai, que faleceu em 2020, tendo como causa uma cirrose.

Enquanto as mortes e os culpados estão sendo investigados, me chamou a atenção o nome dado pelo delegado responsável pelo inquérito ao caso: “Operação Acqua Toffana”, se referindo a uma mulher chamada Giulia Tofana que inventou um “remédio” que era infalível para matar maridos. A fama de Giulia percorreu toda Itália a partir de 1630 e há notícias de que mais de 600 pessoas teriam morrido, principalmente maridos abusadores.

Como o caso dos envenenamentos gaúchos – segundo o delegado – são em decorrência de desavenças domésticas que se acumularam durante 20 anos, na minha opinião, a operação deveria se chamar “Lucrécia Bórgia”, outra italiana especializada em envenenar os desafetos dela e de seus familiares na Itália, um século antes da Giulia Tofana. 

Eu sempre disse que quem quiser me matar é só envenenar um pastel e me dar, que a probabilidade de sucesso será de 100%. 

[Crônica X/2025]

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Arsênio Caetano Veloso Giulia Tofana Itália Lucrécia Bórgia Piaui Polícia Rio Grande do Sul Veneno 

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