A história nos conta, e a imprensa repercute, atos em que pessoas, a mando de alguém, passam o tempo caçando desafetos de autoridades e sistemas. Leon Trotsky, inimigo de Josef Stalin, se refugiou no México, mas foi morto assim mesmo. Mais recentemente, o escritor Salman Rushdie, tornado “inimigo público número um” do islamismo, quase foi morto a facadas, pois está condenado à morte pela blasfêmia que consideram ter cometido.
A Bíblia narra que ao saber, pelos “Reis Magos”, do nascimento iminente do novo “rei dos judeus”, o rei Herodes, o Grande, determinou a execução de toda criança do sexo masculino, de até dois anos, em Belém e adjacências. O episódio ficou conhecido como o “Massacre dos Inocentes”.
Mas, avisados por um anjo, José e Maria conseguiram levar o menino Jesus para o Egito, onde ficaram desterrados até Herodes morrer no ano 4 d.C. O resto da história é conhecida.
O que pouca gente sabe (e eu cheguei à essa conclusão hoje cedo, enquanto tomava banho), é que Herodes, ao saber da fuga da Sagrada Família, decretou uma fatwa* eterna, para que o “menino Jesus” fosse perseguido e morto não importando a época.
Os agentes “jumpers”**
Esta semana tivemos a notícia de que um homem, em São Paulo, furtou a imagem do menino Jesus que fazia parte de um presépio montado na frente da Paróquia Nossa Senhora da Consolação, no centro da capital. O homem tentou vender a imagem nas proximidades e não há mais notícias sobre o assunto.
Eu me lembrava de já ter lido sobre outros furtos parecidos e fiz uma pesquisa meia-boca, encontrando três casos em 2023, um em Guararapes, no interior de São Paulo, em João Pessoa (PB) e outro em Recife (PE).
Encontrei, além dos relatos de furtos, filmes e episódios de séries de tevê em que o tema principal é o sumiço do menino Jesus. Há furtos de imagens em presépios relatadas nos Estados Unidos, Canadá, Suécia e Reino Unido. Na Espanha, a imagem não só foi furtada, mas sequestrada. Os bandidos exigiram o equivalente a R$11 mil como resgate. A estatueta foi restituída, no entanto, sem o pagamento da fiança.
A repórter Katie Rogers, que trabalhou no New York Times, escreveu uma reportagem em dezembro de 2015, onde afirma: “”acredita-se que seja parte de uma tradição anual, muitas vezes realizada por adolescentes entediados em busca de uma brincadeira fácil. Às vezes, eles são roubados para revenda, outras vezes as brincadeiras associadas são mais envolventes e incluem deixá-los em outro lugar”.
Discordo da colega . Acredito que seja uma teoria conspiratória, articulada pelos assessores do Papai Noel. Eles querem que as comemorações do dia 25 de dezembro sejam exclusivas para o Bom Velhinho, sem a concorrência do menino Jesus, que afinal não nasceu no dia 25 e, muito menos, em dezembro.
O que vocês acham?
[Crônica CXCIII/2024]
* Fatwa ou fátua – Na teoria é o esclarecimento de alguma passagem da legislação islâmica. Porém, na prática, é a declaração de sentença de morte contra pessoas acreditadas nocivas àquela religião.
** Jumpers – Na ficção científica, são pessoas que trafegam no tempo e no espaço – para o passado e para o futuro -, podendo alterar fatos e mudar o curso da história.