23 de dezembro de 2024

Vasco da Gama, o lusíada esquecido

Por José Carlos Sá

Nau São Rafal, comandada por Vasco da Gama, na primeira viagem à Índia, em 1498 (Reprodução)

Quando eu passei a me entender por gente, encontrei a casa em que a minha família morava cheia de flâmulas do Clube de Regatas Vasco da Gama. Aqueles enfeites me intrigavam, pois tinham o desenho de um navio antigo e eu não sabia qual era a relação entre o time de futebol e aquela velha embarcação.

No Grupo Escolar, quando a professora nos ensinou como foi a “descoberta do Brasil”, por Pedro Álvares Cabral, ela falou, de passagem, sobre o navegador Vasco da Gama, que antecedeu Cabral e encontrou o caminho marítimo para as Índias, onde os portugueses iam buscar as tais especiarias (outro mistério que desvendei muito tempo depois).

O aniversário de 500 anos da morte de Vasco da Gama quase passa batido em Portugal (Detalhe de quadro de António Manuel da Fonseca [1796–1890]/National Maritime Museum)

Li hoje, em um portal de notícias de Lisboa, que os portugueses estão celebrando 500 anos da morte do navegador Vasco da Gama, conde da Vidigueira e vice-rei da Índia, que morreu em 24 de dezembro de 1524. A programação cultural começou dia 16 e se estenderá até março de 2025.

Em Portugal estão tentando retirar Vasco da Gama do ostracismo e ressaltar a figura dele como um navegador pioneiro, tendo sido responsável pela colocação do país na vanguarda das grandes navegações. Da Gama fez três viagens para a Índia: a inicial, em 1497; a segunda em 1502 e a terceira, em 1524, já nomeado vice-rei da Índia, quando morreu de malária na cidade de Cochim, que até hoje é um dos principais portos indianos.

A memória dos feitos de Vasco da Gama foram exaltados por Luís de Camões, em “Os Lusíadas” – considerado o maior poema épico em língua portuguesa, Com o tempo, Gama  foi sendo esquecido pelos patrícios, o que levou o Ministério da Cultura a preparar as comemorações para exaltar o navegador. 

Aliás, o governo português só se lembrou da data após ter sido alertado dos “500 anos” por professores e pesquisadores de história. Se não fosse isso, ia passar batido, como já se passaram mais de quatro séculos da morte do almirante. 

 

De volta ao começo

Na minha casa havia flâmulas e retratos do time do Vasco da Gama (Imagens internet)

Como escrevi no começo, eu vivia em um ambiente “enfeitado” com flâmulas e quadros retratando o time de futebol Vasco da Gama, para quem meu pai e as minhas avós torciam fervorosamente.

Nas quartas-feiras que antecediam jogos importantes para o Vasco da Gama, a Rádio Globo do Rio de Janeiro fazia resenhas “esquentando” a torcida com informações sobre o estado físico e psicológico dos jogadores, táticas que o técnico usaria e fazendo terrorismo com declarações dos adversários. 

O repórter ia à concentração e dizia alguma coisa assim: “Fulano, o Beltrano do time Tal, contra quem vocês vão jogar domingo, disse que quebraria sua perna na primeira bola que dividir com você. O que você responderia?” E ficavam nesse leva-e-traz, até momentos antes da partida.

Quando o Vasco ganhava, tudo bem. Quando perdia, era um Deus-no-acuda. Pai retirava o rádio da tomada e jogava contra a parede e dizia, invariavelmente: “Não torço mais para essa desgraça!” E ele aguentava firme a promessa até a próxima quarta-feira, quando, à noite, ao voltar do trabalho, trazia um rádio novo para recomeçar aquela ‘camubembagem’.

[Crônica CLXXXIX/2024]

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Camões Clube Vasco da Gama Índia Portugal Vasco da Gama 

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