A semana está findando com a terceira postagem sobre pessoas queridas que morreram. Hoje de manhã, quando abri o whatsapp, recebi mensagem de dois dos meus irmãos informando o falecimento do artista mineiro Acácio Oliveira, que ninguém sabe quem era, pois se autointitulava “Kakinho Big Dog”.
Músico, humorista e radialista, Kakinho começou cantando MPB nos barzinhos de Belo Horizonte, depois continuou cantando, mas fazendo paródias e participando de programas de rádio, como foi o caso do “Acorda, Paschoal!”, que era transmitido pela Rádio Extra, na capital mineira.
Fui visitar a família em Minas, na década de 1990, e a minha irmã Rosa deu-me de presente uma fita K7 (alguém lembra o que é?) com a gravação do programa, onde o Kakinho participava zoando o apresentador e cantando suas músicas humorísticas e as paródias.
Bobo, como sou, ouvi a fita inúmeras vezes e encomendei um CD com as músicas do Kakinho, mas só conseguiram comprar uma cópia pirata. Mas era um “genérico”, pois os cds eram vendidos pelo próprio músico.
Ouvi o CD tantas vezes que hoje não consigo mais cantar as músicas originais, que foram apropriadas pelo Kakinho e transformadas (para melhor) em outra coisa. Como, por exemplo, ‘Caloteira’ foi ‘Galopeira’; ‘Xá Pralá’ era ‘Perfídia’; ou – a minha preferida – ‘Coiote Sanguinário’, que a geral pensa que é ‘Faroeste Caboclo’, gravado pela Legião Urbana.
Uma das músicas do Kakinho, que saiu dos limites de Belo Horizonte, foi a que é citada no título dessa crônica, “Mô deuso”, aquela que tem um trecho que diz assim: “(…) E pedi pra Mo Deuso / Mo Deuso iscumunga essa muié / Qui num mais mi quer mata ela pra ieu…/Trucida Jesuzin! (…)”.
Dei a minha pequena contribuição na divulgação do conterrâneo através de um texto publicado no jornal Alto Madeira, na editoria Disco/Crítica, no longínquo agosto de 1996, com o título “Caipira também é cultura (Assuma o caipira que há em você)”, quando “caipira” ainda era xingamento.
Vá em paz, Kakinho. Em sua homenagem, vou preferir continuar a cantar suas paródias em vez das músicas que todo mundo canta.
[Crônica CLXXXI/2024]